3/18/2012

daqui (repara

os vermes sob os lençóis, duas
décadas, vinte a quatro meses e estes dias – três
vezes sete
anos e mais algumas mortes retidas nos poros
do tecido em que os restos da pele impressa pelo arame
farpado das horas se escondem
levando versos consigo feitos cinzas)

4 comentários:

Aldemar Norek disse...

Camões com as próprias mãos:

Sete anos de pastor Jacob servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
Mas não servia ao pai, servia a ela,
E a ela só por prémio pretendia.


Os dias, na esperança de um só dia,
Passava, contentando-se com vê-la;
Porém o pai, usando de cautela,
Em lugar de Raquel lhe dava Lia.


Vendo o triste pastor que com enganos
Lhe fora assi negada a sua pastora,
Como se a não tivera merecida;


Começa de servir outros sete anos,
Dizendo: – Mais servira, se não fora
Para tão longo amor tão curta a vida!

Aldemar Norek disse...

FALADO


não deu pra fazer o retrato falado do mundo, meu amor

retirando as escamas da imaginação (repara o brilho
de prata, fugidio, antes de mergulhar
na sombra, sem a menor possibilidade
de sonho) sobrou esta substância
informe, espessa e sem mágica
que a gente depois pendura em ganchos
nos incêndios sucessivos (onde quem se queima
somos nós) das palavras.

Aldemar Norek disse...

by Augusto dos Anjos:

Punjam-no os vermes da Desgraça, assomem
Descrenças, surjam tédios na Descrença,
Luta, e morrem os vermes que o consomem,
Vence, e por fim, nada há que o abata e o vença!

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A desarrumação dos intestinos
Assombra! Vede-a! Os vermes assassinos
Dentro daquela massa que o húmus come,
Numa glutoneria hedionda, brincam,
Como as cadelas que as dentuças trincam
No espasmo fisiológico da fome.

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De lá, dos grandes espaços,
Onde há sonhos inefáveis
Vejo os vermes miseráveis
Que hão de comer os meus braços.

(Canto Íntimo)

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Já o verme - este operário das ruínas -
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,
Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!

(Psicologia de um vencido)

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Fator universal do transformismo.
Filho da teleológica matéria,
Na superabundância ou na miséria,
Verme - é o seu nome obscuro de batismo.

(O Deus-Verme)

Daniel F disse...

apenas a pantera escarra na boca que te beija.