Ecce homo sensibilis
que se emociona até as lágrimas
ao ver o pôr-do-sol no horizonte fétido e poluído
de sua varanda gourmet.
Eis o homem sensível
que potencializa seu falo
ao engolir pílulas azuis, KY e camas giratórias.
Ei-lo,
em sua prazerosa busca pelo acúmulo de artefatos,
pets,
crianças e baby sitters.
Eis o homem de hoje
que adora risos,
choros,
sustos,
e adrenalinas.
Ele é só pele,
só visão,
só sen-sa-ção.
Mas, esse homem,
tem a nuca curvada e o ventre dobrado
- gravado -
com a marca inconfundível do desejo.
E, por isso, se percebe na corda bamba
entre os precipícios.
Ele implora, em sua liberdade,
por alguém que o proteja.
E dá as mãos.
Em troca,
deve tecer seu casulo de fibras óticas e SMS,
- ponto luminoso
entre as ondas de
wifi.
8 comentários:
Caramba!!!
O teu trabalho com a linguagem é algo que fascina...
Que bom que gostou! Bjo!
Puxa, não sabia que vc me conhecia tão bem! ;)
Agora falando sério- é isso mesmo a crise, não? Tá tudo aí, exposto feito uma fratura, o poema.
Beijão.
Muito bom mesmo; tão atual, as imagens todas a se imbricarem para a construção do corpo deste homem que não se reconhece mais.
(Isso é hedonismo para mortos...)
Fecha com tudo, 'ponto luminoso / entre as ondas de / wifi'.
Beijo!
Mar
gostei bastante, também. tem um lance meio caricatural, mas acho isso pertinente num poema com uma pegada satírica - se é que entendi bem e é essa mesma a pegada...
as imagens são precisas e o poema tem um movimento legal, um ritmo.
sobre o pôr-do-sol: é engraçado isso, mas o céu poluído algumas vezes deixa mesmo o pôr-do-sol muito bonito. a nuvem de poluentes encobre a luz, que brilha de um jeito meio estranho, opaco. e o céu fica meio colorido.
Nem acredito que (parece) voltei à ativa. Depois de um longo inverno, acho que a verve voltou. Bjos.
vamo que vamo!
nossa birosca tá com 5 anos e tal, galera.
Postar um comentário