3/17/2012

Um rosto, ausente
Aqui
Próximo, no sonho
Não dentro
Da mente
Por fora, no espaço
Inexistente
Criado pela ausência
De um rosto
Que produz
A própria luz
Aqui, no escuro
Um rosto, um calor
No espaço entre
Mente e quarto

Onde está a luz
Vela, no pavio
Nos olhos: sem olhos
Onde estaria
A luz no pavio

Um rosto
Uma presença
Por dentro
Da mente – a mente
Que está por fora
Não há dentro
Da mente, a mente
Está fora
Do espaço.

Um espaço, assim
Uma luz, um calor
Um rosto
Sem face
Alguém
Que te abrace:

O ar que você
Respira, não quando
Dorme, mas por dentro

Do sonho. O rosto
De quem
Aqui

Não está.

6 comentários:

Aldemar Norek disse...

Oi Daniel.

aconteceu uma coisa engraçada em 2005, quando comecei a mostrar poemas na internet (e só na internet), e interagir com as pessoas que se interessavam em interagir e não apenas em posar de gênios e antenas da raça (ah, este amor sem eira nem beira... ;): uma poeta me escreveu e, depois de dizer que tinha gostado de meus poemas, sugeriu algum tipo de colaboração, sem dizer exatamente qual. Depois de algumas mensagens, em que a gente conversava sobre poesia de um modo genérico, influências, pensamento etc. (sem Deleuze e rizomas - se fosse na década de '80 seria sem Nietzsche e super-homem, um genealogia da moral), ela me mandou um poema me pedindo sugestões...

Aí eu fiz, ingenuamente, várias sugestões, mexi daqui, mexi dali e tudo o mais: porque tinha gostado muito do poema, mas achei que tecnicamente a ideia se perdia, e que ele precisava de um pouco mais de trabalho de linguagem e de versos mais kamikazes pra ter o efeito que o poema pedia. Tipo assim: mexi em 40% do poema, se é que taxas combinam com versos (meu lado 'exato', de quem convive com a engenharia todo dia no trabalho de arquiteto, sendo inclusive mais técnico que muitos engenheiros, não consegue deixar de invadir o espaço da poesia).

Resultado? Ela nunca mais interagiu comigo....ahahahah.
Meses depois ela me mandou uma mensagem, como se nada, sem mencionar a 'violência' que cometi com o poema dela. Não preciso dizer que a ingenuidade daquele Aldemar que, aos 42 anos perdia a virgindade de mostrar seus poemas e conversar com outros poetas, (quase) não existe mais.

Mas o que eu queria dizer e não disse é que aqui no Lingua posso ser ingênuo, e me dá muita alegria a gente falar um sobre o poema do outro, sem reservas e sem receio, mostrando o que a gente vê como acerto e o que vê como ponto a ser revisto - inclusive com a perspectiva de nosso 'achismo' ser uma perda de foco. Mas o direito de pensar e expressar o que se pensa é um tesouro aqui na nossa birosca (hum, este nome me lembrou alguma coisa... A vocês também? rs).

Depois desta aproximação longa, o que eu queria mesmo dizer (ainda que o principal já tenha sido dito) é que adorei o poema, o que ele discute, o como se desenvolve, mas não gostei do final. Achei o "não está" previsível e aquém. É o esperado, como um fecho de ouro. Trocaria por "lá" ou algo assim,que não completasse o sentido, ou deixasse ele em suspensão e bem aberto, pq o poema fala nessa imprecisão e a precisão do fecho destoa da ideia. Fora isso, DEZ, nota DEZ, como diria o Carlos Imperial. ahahahahahah

Daniel F disse...

Vou pensar sobre o assunto. pode ser previsível, mas é verdadeiro em relação à motivação do poema. mas, enfim. como dizia pessoa, sentir? sinta quem lê!

colocar lá acho que não funciona aqui.

já me acostumei com a ideia de que 90 por cento das pessoas quando pedem que voce comente tão na verdade pedindo elogio. então é melhor ficar calado na maioria das vezes, pra não ter que ser mentiroso. afinal, um sujeito que acha tudo bom e excelente não é muito confiável...

Aldemar Norek disse...

Que beleza você me achar confiável!
ahahaha

Daniel F disse...

você está longe de ser aquele que acha tudo bom e excelente. a história que você contou mostra isso.

é confiável sim.

Aldemar Norek disse...

Sei que você acha. Estava só comemorando.... :)

Mar Becker disse...

Daniel, este poema é tão bom, tão arquitetado, tão belo: de repente a tua poesia se torna um rumor de águas, de ventos.
Aqui a palavra se rarefaz aos poucos: criam-se espelhos d'água entre afirmar e negar, entre pôr a coisa num lugar para tirá-la e conservar, nesse espaço, um outro lugar, um não-lugar; de calor, de silêncio, do que poderia, onde estaria (se).
Excelente.

Beijo,
Mar