Vejo a mim mesmo como uma ilusão refratada de mãos que se fecham contra o peito
Protegendo-se num silêncio e apto a enxergar a luz muito forte do sol como se fosse outro nosso planeta.
Vejo minha irmã mais velha como alguém que decidiu obsessivamente proteger a todos, o que é impossível dada a quantidade das feridas que tendem ao infinito – o universo é uma ferida em expansão.
Vejo meu irmão mais velho como o Sacrificado, a carta que foi lançada cedo demais contra o vento e o mero abismo irrisório da vida, aquele que teve que abrir caminho no labirinto obscuro e percebeu cedo demais que a pretensa ordem das galáxias é um triste concerto de palavras.
Vejo tudo isso e entendo os homens antigos que sonhavam com o perdão absoluto.
Vejo uma criança enviada ao seminário para estudar com os padres a sua podre sabedoria e tendo que encarar a inexplicável rejeição, vejo essa criança envelhecendo oscilando entre a pretensa santidade e a completa frustração, sob uma luz desconhecida.
Vejo uma criança que vê sua mãe morrer afogada ou que precisa disso para aplacar as vozes que gritam coisas contra ela, contra sua fragilidade, contra a derrota predestinada dos astros negativos que cumprem um papel absurdo na ordem cósmica.
Assim vejo meus pais, mas apenas hoje, em que penso sobre sua absurda fragilidade.
Vejo tudo isso e entendo os homens antigos que sonhavam com o perdão absoluto.
Meu irmão mais novo surgiu, para mim, como uma estrela inesperada e sonha com cataventos à beira do tempo.
Mas não se iludam, ele aprende a controlar sua fragilidade
E dará as respostas na hora certa, no momento preciso, contra a arrogância dos homens que fazem a história como quem tece um pesadelo.
Minha irmã mais nova surge como uma perplexidade que observa perplexamente a vida, um espelho cheio de sentimentos e melancolia.
E em seus olhos todas essas vidas se desencontram, ou sou eu que vejo tudo isso, todos nós na tristeza de seus olhos, desde o dia em que ensinei, com uma lanterna, que o milagre das estrelas é a distância.
Vejo tudo isso e entendo os homens antigos que sonhavam com o perdão absoluto.
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