11/22/2013

Viagens Alucinantes

                             De manhã
                               Luz lâmina fria
                                   Em meus cabelos

                                   De tarde
                                   Vento feérico
                                   Nos olhos

                                   De noite
                                   Frente ao espelho
                                   Escuro reflexo.


                                   Tudo o que se sabe fere
                                   O que desabe:
                                   Eu,

                                   Inverossímil filosofera


11/13/2013


Com a mente cheia de fungos
corro até a esquina
testemunhar a novidade da semana:

por onde começa
a explosão do planeta.

*
Alma de polias rangentes
engrenagens enferrujadas rodas dentadas teias de arame
farpado pó de luas mortas com gosto de sangue na boca
dentes muito finos e compridos roendo a covardia
dos nossos tempos, gente de luto escorrendo
ralo abaixo, gente sem pulso girando e girando
pro fundo do poço

que bela merda essa tua vida hein

um sol negro sabe o nome e nos chama –

fiquem tranquilos conterrâneos da desistência
sigam a estrela vermelho-pálido agarrada como uma tarântula
na minha nuca, sou anêmico mas meu sangue tem luminol :

eu vou à frente e ensino o caminho,
é simples como saltar de um trampolim,
tudo de que vocês precisam é um exemplo.

*
*
Poeira e pedra
pedra e poeira rumino
com gosto de pinho sol

desgosto de duas luas
de celulose agonizando à faca cega

uma sobe outra desce
uma desce outra sobe
dois olhos por dentro das veias
lentes de fuligem pra ver

o ir e vir o ir e vir o ir e vir
o ir e
vir da dor:

sou meu próprio açougueiro
cavo meu corpo de bolor e terra úmida
com uma enxada enferrujada que eu mesmo invento.

- matou-se tomando um litro de pinho sol
e ganhou o epitáfio jocoso de boca de bidê.
           



11/04/2013

Fecho os olhos
            cada globo ocular é uma lua
            atravessada de sulcos e cicatrizes:
            arranhões
                        traçando, a sangue coagulado,
                        raízes para um jardim de flores dentadas
que me tramam o peito, por dentro:
           
assim que durmo quero acordar,
assim que acordo quero dormir,
é sempre o mesmo estado de coma:  
                        inoculam-me óleo de estrelas mortas
                        pelas vias respiratórias.

                        um vento gelado
                        trava-me o tórax, dizendo:
                        ao menos que seja rápido
                        que o futuro seja rápido como uma sombra
                        que a indiferença interrompa a destruição
                        como uma elipse involuntária dissolvendo astros negativos
                        ou que o futuro não chegue
                        e que o presente passe rumo a não sei que outro tempo,
qualquer alívio ou desastre.

                        por enquanto sou como aquele planeta que deveria existir entre Marte e Júpiter
                        no espaço do pensamento
                        e nunca foi encontrado.