A
quanto tempo não escuto minha voz
            nem mesmo por dentro do caos
cosmogônico do crânio
            extraditado da morte pela vida.
            Equilibro-me no parapeito do viaduto
mais alto de Brasília
onde
durmo, profundamente em vertigem
sonho
que lidero uma rebelião de internos num manicômio judiciário.  
            *
            Que uma vida
fique nas mãos de outra –
            como um favor que você nunca pediu:
            No cemitério abandonado
            um crânio de jacaré
            ossos estranhos daqueles cuja vida é
desperdício
            (o coveiro dizia, esse da cara
comprida era um idiota,
            aquele de formato meio bovino era um
retardado
            e logo à frente, junto com ossos de
cachorro,
            o louco da cidade)
            e uma ossada de boina e casaco verde
            em silêncio pela morte de Che
Guevara. 
            Que o tempo remoa a covardia de suas
entrelinhas. 
 
 
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