(ainda estou de folga
8h30 e ergo da cama
em sobressalto.
quero dizer algo como se o amor
não valha a pena
ou mesmo, talvez, não exista.
após tomar café,
vou tirar o pó
da estante e abro aleatoriamente
o livro do nauro na página 223:
e eis que:)
BRASÃO
Sem ninguém para amar é feliz a alma.
Sobre ela a funda e igual noite descer
ainda mais fundo que um túmulo pode:
pode feliz descer a noite nela.
Não amar ninguém: um bicho amar e, ao menos,
nesta infelicidade de uma só alma
ter a certeza - ao menos - de amar poder!
Mas nada amar. Ser como um rio só.
Ser do rio as águas do mar. Ser do peixe
o instante dele. Da água, o esquecimento.
Nada amar pode a alma que feliz é.
Sem nada amar, pode a alma se esquecer.
(Nauro Machado, O Calcanhar do Humano)
2 comentários:
Bicho, estou fazendo esse comentário para lhe avisar que foi aprovada na CCJ do Senado um projeto de lei do Senador Eduardo Azeredo que, em linhas gerais, simplesmente acaba com a internet. Ele proíbe tudo, até criação de blogs. É super, aliás hiper importante que você leia essa petição e a repasse para todos os seus amigos. Isso é praticamente um novo AI-5 na história da cultura brasileira. Abraços, Bruno Marcondes.
Eis o link:
http://www.petitiononline.com/veto2008/petition.html
Não sei não, Anderson. Embora ache que o Nauro tem uns poemas impressionantes pela força, pelas imagens, por sua poética, tenho uma certa reação à idéia de separar alma e corpo - como já disse num poema aqui (Jam) a gente só ama e odeia com a impureza dos hormônios, é indissociável. E essa é uma das discussões mais viscerais de hoje: até onde é alma e até onde é corpo quando o assunto é pensamento e emoção. Neurocientistas versus resto do mundo. Pessoalmente não sei onde fico. Acho que no meio do caminho, junto com a pedra (que aliás é material, corpórea, bruta, sem metafísica).
abração.
aldemar
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