7/11/2008

a folga, a estante, o pó e o calcanhar



(ainda estou de folga
8h30 e ergo da cama
em sobressalto.
quero dizer algo como se o amor
não valha a pena
ou mesmo, talvez, não exista.
após tomar café,
vou tirar o pó
da estante e abro aleatoriamente
o livro do nauro na página 223:
e eis que:)

BRASÃO

Sem ninguém para amar é feliz a alma.
Sobre ela a funda e igual noite descer
ainda mais fundo que um túmulo pode:
pode feliz descer a noite nela.

Não amar ninguém: um bicho amar e, ao menos,
nesta infelicidade de uma só alma
ter a certeza - ao menos - de amar poder!
Mas nada amar. Ser como um rio só.

Ser do rio as águas do mar. Ser do peixe
o instante dele. Da água, o esquecimento.
Nada amar pode a alma que feliz é.
Sem nada amar, pode a alma se esquecer.


(Nauro Machado, O Calcanhar do Humano)

2 comentários:

Bruno Marcondes disse...

Bicho, estou fazendo esse comentário para lhe avisar que foi aprovada na CCJ do Senado um projeto de lei do Senador Eduardo Azeredo que, em linhas gerais, simplesmente acaba com a internet. Ele proíbe tudo, até criação de blogs. É super, aliás hiper importante que você leia essa petição e a repasse para todos os seus amigos. Isso é praticamente um novo AI-5 na história da cultura brasileira. Abraços, Bruno Marcondes.

Eis o link:

http://www.petitiononline.com/veto2008/petition.html

Aldemar Norek disse...

Não sei não, Anderson. Embora ache que o Nauro tem uns poemas impressionantes pela força, pelas imagens, por sua poética, tenho uma certa reação à idéia de separar alma e corpo - como já disse num poema aqui (Jam) a gente só ama e odeia com a impureza dos hormônios, é indissociável. E essa é uma das discussões mais viscerais de hoje: até onde é alma e até onde é corpo quando o assunto é pensamento e emoção. Neurocientistas versus resto do mundo. Pessoalmente não sei onde fico. Acho que no meio do caminho, junto com a pedra (que aliás é material, corpórea, bruta, sem metafísica).
abração.
aldemar