5/10/2011

Sonho é vida

Yo sueño que estoy aqui destas prisiones cargado, y soñé que en otro estado más lisonjero me vi.
¿Qué es la vida? Un frenesí. ¿Qué es la vida? Una ilusión, una sombra, una ficción,
y el mayor bien es pequeño: que toda la vida es sueño, y los sueños, sueños son. Calderón de La Barca.
1. Mecânica celestial
Um amigo me dá um presente. Abro a caixa: é um relógio. Num estouro, os ponteiros saem voando pela casa enquanto se multiplicam como agulhas girando em alta velocidade no ar, tomando o espaço de assalto.

2. Meu encontro com os Cabeça-de-Abelha
Estou numa festa. A polícia entra e me leva preso, junto com dois meninos de rua. Vamos à delegacia, o policial não sabe dizer o motivo de minha prisão. Sou liberado e caminho por uma cidade parecida com São Paulo. A luz acaba, as ruas ficam muito escuras. Subo uma ladeira no breu. Vejo um vulto, um sujeito de capa preta e chapéu preto de caubói, empunhando uma espingarda. Ele me diz que é o líder dos Cabeça-de-Abelha. Noto que estou num cemitério, muito simples, cruzes de madeira sobre a terra, nada de lápides. Outro Cabeça-de-Abelha aparece e aponta a arma pra mim. Mas o líder resolve não me matar. Continuo com eles em minha caminhada, à procura de um jeito de voltar pra casa. O problema é que eles estão em guerra com outra facção. Chegamos numa casa, relativamente grande, com mulheres e crianças, não somente os soldados Cabeça-de-Abelha. Algumas garotas andam armadas e brincam de apontá-las pra mim. É uma brincadeira tensa, sinto que em algum momento alguém pode decidir me matar. De todo modo, sou um estranho aqui. Os inimigos chegam, estamos cercados. A casa fica numa encosta, a porta da frente no alto e a dos fundos na parte mais baixa, mas os dois lados estão em plena batalha. Não temos como sair. Mesmo assim, resolvo arriscar e fugir pela lateral da casa. Três meninos decidem vir comigo. Pulamos o muro e corremos. Por milagre, chegamos a uma praça desolada, mas ao menos com um ponto de táxi. O taxista me avisa que estamos muito longe da cidade. Não sei como posso ter andado tanto. Entro no táxi sozinho, mas, a certa altura, três meninos de rua aparecem no táxi. Eles carregam revólveres, facões e dinamites. De novo, a velha brincadeira de fazer de conta que vão me matar. Talvez, por eles gostarem do líder dos Cabeça-de-Abelha que foi com a minha cara eles decidem me poupar. Mas não o taxista: repentinamente, noto que ele tem um facão enfiado no pescoço. O carro está parado quando os três meninos também estão mortos. Eles tinham tomado algum tipo de veneno antes de chegar. Não sei explicar o motivo desse suicídio realizado de maneira tão insólita. Saio do carro, estou vivo, não tenho nada a dizer nem como avaliar o sentido disso tudo. Chego a um posto de gasolina, desses de beira-estrada, grandes e decadentes. O farol de um caminhão bate direto em meus olhos, é a luz de uma manhã fria, azul claro como um manto, uma elegia à morte que sanguessuga nossas almas inclusive quando sonhamos.

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