Pensar não é angelical. Tanto que o pensamento tem localizações e movimentos precisos, dignos
de um agrimensor: no topo da cabeça, te puxando pra cima como um aparelho de suc
ção. Você sente sua cabeça sendo puxada pra cima e roga,
a si mesmo.
Alguns pensamentos giram ao redor do crânio, passam
como brisa, ou mais
como se você fosse um parafuso da imbecilidade compartilhada e sua pele fosse de argila. Outros se escondem
na base do cérebro, para ser mais preciso:
em seu porão –
cheiro de mofo e morte. Cair neles é como mergulhar –
viver cria lodo. Existem pensamentos
do lado de fora, gritos grudados nas paredes, falas alheias que fisgam
a mente: um peixe
faminto nessas ocasiões – e otário.
Por fim, há os que acompanham
a fina membrana entre olhos e
luz, a consciência
não está nem fora nem dentro,
à superfície
da vida (toque a superfície do rio, sinta a suave resistência líquida, antes do mergulho, suas mãos serão um pensamento instantâneo da água). Pensamentos sem
pergunta, de quem
está desperto mas não
em vigília (a luz
da vela e suas sombras dançam seus olhos
ao flu
tuar e se diss
olver na parede).
É esse dissolver-
se que chamamos de:
anjos.
3 comentários:
Deu vontade de chorar :'... no final.
A progressão deste tem algo de diferenciada... Porque começa áspero, claustrofóbico, vai até a lama.
Depois, surgem imagens mais rarefeitas; e a percepção liga as suas minúsculas antenas para vê-las, entre o sopro e algo que não consigo dizer...
Gosto dessa movimentação dos teus textos. E a versificação contribui aqui pra esse efeito... Muito bom!
Beijo,
Mar
esse aí foi resultado de uma meditação. tive uma sensação estranha, de que alguns pensamentos faziam movimento diferentes, no sentido mais concreto que voce imaginar. como forças que puxam o corpo pra um lado e pro outro. até chegar a um ponto em que o olho virou pura superfície.
essa meditação foi meio louca. às vezes acontece.
"Isto aqui é musica/ vc tem que fazer o pensamento dançar/ com seus sapatos cinzas".
Que beleza, Daniel!
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