12/05/2012

A última semana da minha vida

Minha força é a fraqueza

Arranco fibra a fibra os meus músculos
Até que só restem
Dois olhos opacos como cal
Dois ouvidos que captam as vibrações do calendário
E uma boca tão derrotada que dele só brotam
Os sons imateriais da mente.

Meus inimigos são anjos
E não sabem.



* * *


Tempo é gestos que abrem precipícios

Você vira o volante à direita pensando no cd que vai gravar

O celular toca na hora em que o médico ia receitar o anticoagulante

Ela desceu mais rápido do que normalmente, eu a encontro no meio do caminho quando o normal seria eu ter passado por ali só

Amanhã pode ser que eu coincida – se houver amanhã



* * *

Com os dois olhos que brotam gotas de pus na extremidade de dois canudos cheios de cerda e lodo, o molusco tateia a realidade externa ao seu exoesqueleto, sua carne frouxa não seria páreo para a força bruta dos peixes e suas bocas de centenas de dentes e por isso ele se esconde por trás de algo que simula a impassibilidade mineral – ele tateia, gira os olhos pelo ambiente, antes de sair de dentro de sua caverna óssea para a caçada. Pois é, o nosso torpe amigo também é predador.
Há predadores em toda parte, inclusive por dentro de sua carne viscosa, nojenta de engolir como um chiclete. Se não foi hoje, vai ser amanhã.
Oceano é destino bruto e sem lei.

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