3/22/2013

O estado natural da luz de Brasília é estourado. A banalidade é nosso incêndio cotidiano, tudo tende à pedra, inclusive as raízes do fícus que rompem o asfalto. Vozes sob o silêncio deixam claro que conhecem seu passado que retorna como estigma, cicatriz brilhante por dentro do seu coração, que deveria ser invisível. Assassinos de aluguel sabem o seu nome e dizem em alto e bom som toda vez que te vêem no comércio local. Se estão mal humoradas, e sempre estão, as crianças sussurram seu nome quando você passa – é você mesmo, o abandonado. Não existe abrigo, a porta está sempre aberta porque sempre alguém está partindo. E você também, só que se partindo por dentro. A luz arde como estilhaços de vidro rompendo suas veias. O sol está coberto por uma lente, você queima como papel, a vida é apenas normal.

3/13/2013

Aperto de mãos, pra você é tão natural. Fio elétrico escondido na carne e não precisamos mais do que alguns meses. Como eu devo agir depois de nos despedirmos? Dois passos para trás e depois me viro? Um passo é suficiente? Ou já posso me virar imediatamente? Para a direita ou para a esquerda? Como deve ser meu olhar e a intensidade do sorriso? E depois por quanto tempo é adequado eu preservar a sua imagem na minha mente? Devo fazer perguntas e responder por você, como se você fosse minha marionete? Ou devo limpar a mente e apagar a informação, começando do zero? Mas, então, como eu te reconheceria?

3/01/2013

Só conheço pessoas que se liquefazem, estão se arrastando em seus rastros oleosos de lesma, digerindo-se, descendo pelo ralo da história. Vão se consumindo e o tempo é um criador de distorções, em nossas mentes retorcidas e corações que apodrecem. Seu tempo passou e elas caíram de maduras. E quem começou a linhagem de raiva e frustração? Que aprendizado a vida trouxe? O que é a voz da sabedoria? Nada, a não ser a mesma dor que atrai mais dor semelhante para o núcleo do mundo. O cansaço fermenta na terra quente, e ela tem fome de sofrimento. O destino é um ímã curioso, os corpos se dissolvendo em lodo e cobrindo-se com palha de metal moída pelo deus invisível – gosmentos porcos espinhos, signos da história. E todos dizem se ao menos eu tivesse uma palavra amiga. Mas ninguém pronuncia uma palavra amiga. E todos pensam se alguém me salvasse. Mas não há salvação quando todos se afogam, e o que é a vida se não esse caldo intragável de restos de corpos em decomposição em que as gerações se afogam. E todos dizem se eu te der minha mão serei apenas um peso a mais te puxando pro fundo, pro ventre da derrota.
Uma bala interromperia o processo? Você tem meu número. Me telefone antes de apertar o gatilho.