4/10/2013

Da série planetário de bolso

Terra
Quanto mais cavo, mais pesada é a terra e mais próxima da leveza etérea. Quanto mais fundo é o túmulo, mais leve é o fantasma. As palavras nascem asas do lodo. Quem sonha com uma saída, sente os pés enraizados e é mais fácil romper os ossos que tocar as utopias que trago em meu ventre denso, obscuro, incandescente. Sou a morada mortal de poetas ainda mais mortais do que eu. Desistam, não há ouvidos para o seu lamento. E se ouvidos houvessem, inexistiria interesse. Lancem suas mensagens ao mar, mas o mar é duro e transparente como uma pedra. Desprezem a lama que lhes deu vida, como coisa viscosa que envolve suas palavras em podridão. Não existe aparelho perceptivo para a podridão que emana de seus corpos, sua solidão é sem remédio.

Vênus
A luz filtrada pelas nuvens é ainda mais avessa aos olhos – a criança grita como se a certidão de nascimento estivesse em jogo e as nuvens fossem a porra de seu pai – édipo destronado, estrela da manhã, diamante de esperma adornando a lua – o segredo da espuma – o mar verde cor de detergente, teu solo pegajoso onde se mergulha ao dissolver-se – crianças brincam na lava, bolhas de sabão, porra e limpol, no que seria apenas o choque natural entre sal e água – em torno do sol, o mar da história é felicidade de espuma onde a lenda germina e se cria um vazio de lodo – sangue coagulado – o coração vivo vaga pelo céu vazio – escroques estupram Mnemosine – Mnemosine é uma cachorra, uma puta que proclama lições de moral em frente ao éter.

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