6/12/2013

Cidade sitiada por enchente

1.
Caninos reluzentes e anéis de ouro brotam
do lodo, do rosto oval do Absoluto,
homens sujos de terra com máquinas de nomear,
criaturas do Trocadilo de unhas bem cuidadas.

Terra de cova, de cadáver, de lamaçal amazônico, de apodrecido cerrado, poeira de garagem, fuligem de ministério, maquiagem brutal
do terror; seus oficiantes são sacerdotes que dão murros nas mesas em síndrome de visceral denegação.

A história sibila como o rotor da pimentinha, seu corpo desintegrado se equilibra na paranóia com que o serviço secreto estuda as formas mais inventivas de tampar os cus de Médici, Ustra e Fleury – o tirano deve ser íntegro e precisa cagar por um buraco mais higiênico, nos sete matizes do rosa.

Um filete de sangue corre pela valeta da rua dos testemunhos dos comedores de mimeógrafos, depois de intensa busca panfletos homicidas atribuídos àqueles que serão mortos são extraídos dos rins de peixes envenenados pelos resíduos das usinas ao passo que o médico auxiliar receita um buscopan.

A foto do mito morto e uma cadelinha para estuprar.


2.
A mente es-
quece o choque guardado
no corpo, para todos os efeitos:

o engenheiro em Birmigham
o jovem no porão
pensam sobre o enigma –

a corrente
da eletricidade, o brutal
curto-circuito da história –
ser contemporâneo
de um gorila.

Na calçada, um homem de cotovelos
estraçalhados
executa Bach para os passantes.


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