Minha
vida não gira ao redor de si
É da loucura e da morte que giram
Na lua girando por dentro
Em torno de um coração
No sangue do vento que arranca,
veloz, do centro a periferia
Tantos pássaros obscuros no
calabouço em que me confino
Ao barulho de asas topando no teto
escuro
De amores natimortos descendo pelo
ralo
Numa
escada em espiral, no passado repentino
Como
as ondas fazem curvas
Ao
redor de castelos de areia, cavando com sal em feridas
E tantas coisas girando ao redor
Umas de outras, uma imagem leva a
outra
Que afinal ninguém sabe o que gira
ao redor de quem ou escala:
Se falamos de um leão em círculos por
dentro da jaula
Um planetário refletido em pupilas
de crianças fascinadas
Ou alegorias da dor num motocontínuo
de palavras
Ou ainda se preparo um bote pra me
atracar com minhas derrotas.
Tudo
no fim questão de referência em vertigem
Percorrer
nomes mas sobretudo um nome: como se um redemoinho
Tivesse
dentes e roesse a memória em movimentos circulares.
Giro
no assunto ao dizer que giro ao redor de nada
Bem
definido
E minha vida não gira ao seu redor
De alguma vaga lembrança
Como gira em vagalume a luz que se
apaga,
O que não impede que algo como uma
luz opaca
Um vento muito frio e impassível, de
roedor
Gire ao redor de lágrimas que caem concêntricas
Sobre as folhas que pisamos em meus
sonhos
Girando ao redor de algo como
Alguém libertando os pássaros
sabotadores
E soprando de vida os sonhos mais
delicados
Que trago guardados numa velha mala
de poemas:
Assim em qualquer coisa toda hora
tem um como se,
Ou
algo como se fosse, girando ao redor do que não se pode dizer
Com
propriedade, ou seja, é sempre uma imagem nefasta
Em
torno de outras.
E o tempo todo remoendo esses
risíveis desastres
De lua com pele azul toda trançada por
dentro
Girando ao redor de outra lua
amarelo-rósea
E ambas girando ao redor de um
imenso e lento planeta aéreo
E afinal o planeta que seria o
centro sólido desse carrossel
É apenas um turbilhão de vapores
girando ao redor, entre si
E não há centro para a vida
disforme,
Pulsando como luz que falha ou
poeira vermelha na ventania um leão
Neurotizado
com medo de ratos, e isso se o coração por acaso girasse
Ou tivesse um sentido e gerasse uma
gérbera –
Que aqui vem ao caso de qualquer
coisa palpável
Que você – você mesmo – poderia supor.
Saber
que a vida não gira ao redor de si –
Vamos lá que não é grande novidade
A questão é o que fazer com o
turbilhão que nos espera
Da escada ao nada.