9/14/2014

Como matar a criança que nunca nasceu?
            Nos perguntávamos.

            Em meio à seca ela subia montanhas
            Trazendo água para nossa sede
            Com a pele toda trincada.

            Como é possível matar essa criança?
            Ela incomoda, extemporânea,
            Mas do vazio de seus olhos entorpecidos
                        Vinha uma luz que aplacava o breu
                        De nossos corações sugados de tanta gravidade.

                        Como mataremos a criança inexistente?

                        E ela estava morta.
           


9/02/2014

Em memória à esquizofrenia de Kafka
            Um território não pertence a quem nele cava
            Amacia a terra severa e fecunda
            Até que os dedos se tornem raízes.
            Mas aos guardiões de olhos mortiços nas suas fronteiras.
            *
            Em memória à epilepsia de Nietzsche
            Vê-se uma bela escada
            Pavimentada com corpos de jovens mortos
            E fuzilamentos simulados – a lâmpada
            É de eletrochoque altruísta.
            *
            Em memória à paranoia de Kerouac
            Uma figura de Big Sur
            Queimada e jogada num cinzeiro.