O tempo é passagem
entre um lugar e outro, trânsito entre uma pessoa e outra. As pedras que
sustentam a ponte no vazio são agora.
Mas não existem dois agoras que se toquem. É uma impossibilidade psíquica, histórica e, antes de tudo, física. Quero
morrer envenenado de comer um polvo cru. Ser enterrado com o rosto voltado para
baixo, porque com o tempo o que está abaixo virá a ser acima, como um cão
celestial.
Quando você é vulgar: apenas negocia convenções, não domina os segredos, qualquer um pode dizer que árvore é o nome de uma cidade, que cidade é o nome de uma arma, que arma é um sentimento, que sentimento é o nome de um faraó. A língua epistolar é a conversa vulgar no desentendimento, mesmo que este ocasione encontros repentinos e imprevistos. É quando uma criança autista diz pra você: se o mundo gira, porque você não fica tonto?
12/28/2014
12/09/2014
Quando o espaço tiver
minguado em seu próprio espalhar-se que dilacera proximidades, pode ser que nasça
aquilo que será o sem-perguntas e sem-respostas, a rememoração absoluta do anjo
futuro que apenas sonhará à beira de um buraco-negro. Posso até acreditar que essa
divindade que nada cria e apenas revisita o que houve pode se deter num instante,
um lapso em torno de toda engrenagem ao redor, passando do mais ínfimo ao
imensuravelmente imenso em suas articulações, como um teatro nô da história do
universo. Isso se deteria no momento em que uma suave silhueta se revelou sob
nuvens diante de uma cerca enferrujada, no entardecer que ora eu via em roxo
ora em verde, a face desenhada em cinza ao contrário sobre a paisagem cinzenta,
todas as cores se depurando no clarão corrosivo da implosão da atmosfera. E esse
último suspiro da natureza seria lindo – e assustadoramente solitário.
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