Andy sussurra, selvagem:
Babe, não existem mais dois lados.
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Quando você é vulgar: apenas negocia convenções, não domina os segredos, qualquer um pode dizer que árvore é o nome de uma cidade, que cidade é o nome de uma arma, que arma é um sentimento, que sentimento é o nome de um faraó. A língua epistolar é a conversa vulgar no desentendimento, mesmo que este ocasione encontros repentinos e imprevistos. É quando uma criança autista diz pra você: se o mundo gira, porque você não fica tonto?
Destampe a tal e se lamente, o dicionário de odores ainda é pobre para tanta intensidade olfativa. Vamos ver o que temos neste autêntico
Museu:Um coração de papelão vermelho esgarçado e desbotado quase fígado. Vinte santinhos de candidaturas cândidas ditaduras e seus números. Uma foto de Raul Seixas (Let me sing, let me sing) em meio a uma porção de carteiras de identidade. Longos fios de cabelo de todas as cores enrolados em cartões coloridos em vários formatos
Amor, amor, amor, amor, amor,
encardidos por vômito amarelo colhido num mictório num Dia das Bruxas Esquizo Man XXI. Mensagem em pedaços de papel-seda como faziam os seqüestradores de histórias em quadrinho
r e s g a t e
Meu nome é por sua conta.
Destino – incerto. Endereço: Presidente Wenceslau 826. Mas que tinha coisa errada ele notou ao ser alvejado por 30 cães sarnentos que jaziam escondidos atrás das grades enferrujadas (a casa idem coberta pelo mato). O líder veio em seu encalço por 3 quarteirões, mas ele ia em frente como se carregasse um livro sobre a cabeça: devia se manter altivo, sobretudo não olhar o chão e também não usar o pão como guardanapo em jantares em que se discutiam viagens a Viena e Paris. Na noite anterior na Vernissage com vinho doce e pedaços de pizza ele soube lendo versos na parede que tudo é o avesso mas que por outro lado tanto faz é tudo uma questão de ponto de vista e a sua vida é como você quiser que ela seja. O cão que latia em seu calcanhar nada sabia de Vernissage apesar de ser o próprio vira-lata amado por Baudelaire cem vezes melhor que as Fifis (que, de acordo com o amigo veterinário, tinham o mau costume de comer as próprias fezes, quem diria). Os vira-latas eram imunes a versos publicitários. O endereço era aquele mesmo, mas não havia sinal de que o lugar era a Empresa que ele procurava. Resolveu interfonar. Quem é? Assim fala alguém que se aconchega no lar contra intrusos, não empreendedores que planejam te enredar num lodaçal de gerúndios. Mas era ali - a Empresa. Lá dentro, atrás de cavernosos computadores e cadeiras giratórias ornamentadas de serpentes e leões alados, estavam as três visagens. As três (quem sabe irmãs?) pareciam ter nascido ali, vivido naqueles corredores à luz de castiçais, comendo macarrão instantâneo diante do quadro da criança morta aos 5 anos de idade, elas tinham olhos vermelhos como os das pombas, a voz delas saía como um cano de descarga novamente imitando o regurgito das pombas principalmente no uso do gerúndio (você vai estar mandando a reclamação por escrito?). Uma delas sorria quando pegou a tesoura enferrujada e cortou o fio da meada. Ele saiu de si e caiu no mundo.
perdida.
Espocar da champagne
Jogo de cristais braracnídeos
O terno é a farda
Ternura de papel crepom
Cabelos tingidos: azul, laranja,
Vermelho, as belas pernas
Da vestal do salão, filha do Magnífico
Brilho de pedra verde entre dentes
E frutos do mar.
Ao som de gatinha manhosa
Não restam mais dúvidas:
Você venceu, está dentro
Está por dentro, e logo logo adentrará
Ainda mais fundo nos meandros deste mundo
Quem sabe um café depois do baile
O velho dorme cedo e não ouve nada.
Começa a valsa, a doce voz de Rod Stewart
Em preto e branco, um flash back:
Você na merda literalmente
Limpa a privada com a língua
Arrasta a cara no tapete de sisal
Apaga cigarros com a sola do pé
Oferece a palma da mão a um campeonato
De melecas superiores
Rasteja no chão lagartixa, alguém recita o Levítico
(Tudo o que rasteja é impuro)
Mais uma sessão de afogamentos
Sempre aos berros
Amarram um tijolo num fio metálico
E o fio no seu saco
E ordenam que escale o muro
O imenso muro cheio de musgo
Com um desenho do mapa da Rua do Ouvidor.
É isso ou a morte, ou um beijo na testa
Com a boca cheia de bosta do Supra-sumo
Indizível prêmio.
Você chega ao alto e sorri aliviado
O fio foi cortado –
Hoje tem baile de formatura.
Deve haver um propósito
Nesta vida, você está certo
O mundo secciona um antes um depois
Você sorri com as herdeiras dos sábios de Sião
Às vezes uma sensação estranha no saco
Ano que vem vem a desforra
Não foi de graça que você estudou tanto.
pele cinza rajada
de negro
pergaminho rajada
de letras
língua áspera trocando
calor no tecido vinho
na suavidade-mundo
nessa hora de veludo
objetos tomam
a forma do corpo.
vinho rajado de temas
calientes
absorvida pelo calor
circula
entre os pelos
e o sofá
a vida justificada
(cada uma por sua vez a cada um no seu
momento o calor é indizível prêmio)
pele cinza rajada
de negro, outra
outras letras
dicionário talvez:
o salto os dentes
língua seca punhado de sal
unhas afiadas
despolidas, impolutas
embriagados de virtudes
engalfinhados dois corpos
no mesmo espaço
ainda
no mesmo espaço
veludo vinho acalanto
almejado
outros corpos rajados atingem
três quatro vinte e cinco
oitenta e um
ferinos rasgando-se sobre o sofá
cento e três vinte rabos vezes
vinte línguas
quarenta olhos oitocentos dentes
um bilhão e trezentos e setenta e oito mil pêlos
até que um
desiste se entrega
o vinho o sofá
joga-se ao chão frio
sem traços ou letras
chão branco sem frisos
some no mundo
orelhas baixas
resmungo de felino camundongo
e depois deste outro
outro mais outro mais outro mais outro mais outro mais outro mais outro mai
até que se queda sozinho
o Rei do Sofá vermelho
lambendo o calor do seu corpo.
o caçador e o caçado
comeram-se os próprios rabos.
alternância de sofá é lugar quente .