1/10/2007

Explicações Fortuitas

Ao contrário do que parece, somos leves. O que puxa uma sensação de peso para o centro é a extensão de nossa voz. O que puxa uma sensação de peso para o centro é a dinâmica dos gestos, de um aceno a um soco. O que puxa uma sensação de peso para o centro é o pressentimento do fedor de cadáveres que seremos quando falarem: lá para o fundo vai o corpo de fulano, ou pela presença exagerada daquilo que exprimimos em excrementos, doenças como a halitose inventada pela Gessy. O que puxa uma sensação de peso para o centro são os dentes, quando rimos ameaçamos ou estamos com frio. O que puxa uma sensação de peso para o centro são os endereços que trocamos por engano. O estado de alerta.
mas no centro somos nada. No fundo somos um vácuo que produz o próprio peso. Como não podemos ser exatos – a leveza desgoverna – falamos em fantasmas anjos ou lobisomens. Fantasmas sem contorno, depois que o pano branco é retirado, anjos apenas derretendo sob o sol, naquele instante inicial da queda. Ao contrário de nossa leveza, acreditamos que nascemos como coisas que caem.

5 comentários:

Aldemar Norek disse...

Cara, ADOREI este aqui. ADOREI.
Me lembrou a física pré-socrática e de Aristóteles - e por consequência uma circularidade do tempo.
Ontem não "falei" nada porque estava mergulhado em trabalho,submerso, quase sem respirar.
O trabalho, às vezes, é uma das coisas que puxam a gente para o centro, onde não somos nada.
Talvez tivesse apenas umas sugestões (ah, esta minha mania de ficar dando pitaco!) num trecho ou outro....
abração

Aldemar Norek disse...

a presença da morte aqui está muito bacana, mas não gosto do "odor de cadáveres"....é limpo demais. Não seria melhor Fedor mesmo?

Aldemar Norek disse...

ou o cheiro....

Daniel F disse...

Oi Aldemar,

deixei fedor, concordo com você. se tiver outras dicas, diga. pitacos sempre são bemvindos, mesmo quando não concordamos fazem a gente pensar sobre o resultado geral do texto. Você e o Anderson têm razão, meus textos em geral precisam de uma poda. Acho legal que o blog tenha esse lado de exercício coletivo, de música e artesanato.

Abraço,

Daniel.

Aldemar Norek disse...

pois é, Daniel, este aspecto de troca entre nós todos é uma das melhores coisas daqui. Democracia deve ser isso...rs
abração.
e este poema é realmente muito bom, pra mim.