Sou dedicado à barganha com o Presente – ele é quem dá as cartas. Saquei
o único cartão vermelho ao verso e nada se modificou: a superfície das coisas
permanece impenetrável.
Só que me fode os nervos – teu mal é comentar o passado – no que parece uma droga barata, e eu quero mais. Prossigo: de um lado o barulho das ondas,
do outro, as putas da avenida (uma delas disse que te amava) e esta cidade
é um mapa repleto de casas suspeitas, almas suspeitas, todas as almas
são territórios de enigma e dissipam calor em labirintos de afeto
em carne viva. O coração estendido sobre o asfalto como um puzzle
de frases inesperadas, vilipêndios, bilhetes de amor escorraçado,
soníferos, quartos de hotéis de quinta, largas avenidas, céus da infância.
O celacanto espera um cataclisma, um lance fulminante, napalm – tudo
e qualquer coisa é melhor do que o veneno lento destes dias.