10/26/2007

nº 54



Curvar-se até o chão diante
da inocência, ou mais além do pavimento
duro, se fosse tão gasosa assim
a matéria da alma que num ponto
nunca definido arranca um grito
ao ar quando atravessa os tais
dos campos vastos, triscando balizas do tempo, lentamente,
fingindo obedecer a relógios
e, neste empuxo,
despenhar-se junto aos dias e às promessas
só pra aumentar o monturo e os escombros
a seus pés.
(das Notas Marginais)

2 comentários:

Daniel F disse...

Oi Aldemar,

não sei se eu já falei com você sobre esta passagem do W. Benjamin, tá no sobre o conceito de história: "Há um quadro de Klee que se chama Angelus Novus. Representa um anjo que parece querer afastar-se de algo que ele encara fixamente. Seus olhos estão escancarados, sua boca dilatadas, suas asas abertas. O anjo da história deve ter esse aspecto. Seu rosto está voltado para o passado. Onde nós vemos uma cadeia de acontecimentos, ele vê uma catástrofe única, que acumula incansavelmente ruína sobre ruína e as dispersa a nossos pés. Ele gostaria de deter-se para acordar os mortos e juntar os fragmentos. Mas uma tempestade sopra do paraíso e prende-se em suas asas com tanta força que ele não pode mais fechá-las. Essa tempestade o impele irresistivelmente para o futuro, ao qual ele vira as costas, enquanto o amontoado de ruínas cresce até o céu. Essa tempestade é o que chamamos progresso."

Abraço!

Daniel.

Aldemar Norek disse...

Li este texto em 2005. Acho que foi aí que precebi mesmo, de saída, o WB.

Não lembrava dele ao escrever isso. Mas pode ter a ver, como tem.

Valeu por me fazer reler.

grande abraço.