1/14/2008

Matiz




Não dá pra chamar de plúmbeo este céu, tampouco
argênteo, que um
afunda a sua dor num espectro
engalanado e o outro
aspira a um brilho que
não tem e assim
disfarça o céu que é por tudo cinza,
apenas cinza em sua solidez e lixa
em nossos olhos o que a superfície opaca e rarefeita
aflora de áspero: resíduo, pó, rescaldo
de um incêndio, também chamado, às vezes,
vida.

2 comentários:

Daniel F disse...

Oi Aldemar,

gostei, só acho que o "poeira de estrelas" está mais pra argênteo do que pra cinza, não combina com o resto do poema. Acho que esse jeito de o sol aparecer tem mais a ver com a poluição mesmo, e nada tem de cósmico, no sentido romântico do termo. Um dos mais belos "crepúsculos" que vi foi causado pela poeira e fumaça de óxido de carbono de Sao Paulo.

Quanto ao meu poema que você comentou: ele foi escrito há bastante tempo, em etapas diferentes, mas todas relacionadas com sonhos que tive. O simbolismo não foi proposital, mas você tem razão, vi quando reli. Os adjetivos devem ter a ver com a dificuldade de transpor a matéria do sonho pra um discurso. Mas gosto do poema do jeito que está. Pus agora porque ele se comunicava com o seu sobre o cinema, e pra mim fala sobre coisas que têm acontecido entre o fim de 2007 e agora.


Grande abraço,

Daniel.

Aldemar Norek disse...

Opa, bacana saber isso, Daniel.
A mediação entre o sonho e o poema é difícil mesmo, assim como a mediação da vida dita real com o poema, qualquer um.
E é nesta dificuldade que esbarro ante a vontade de tirar a poeira de estrelas (o lado só metafísico) e só deixar a cinza, o incêndio (que têm os dois significados).
Estou pensando sobre isso.
grande abraço!!!