A beleza
Agride como a paz, como um dia
De luz cortante como lâmina fria
Após uma noite de sono profundo,
Como alguém conversa
E te escuta, profundamente, ali está
A beleza, confunde como quem te conhece
E não te leva a sério, docemente.
Ali está você, olhando pra dentro e pra fora
Sem saber como dizer
Porque a beleza, sem pedir licença,
Decidiu capturar os seus olhos.
A beleza tira o fôlego
Do travesseiro quando você
Chega em casa, e te divide entre
A rua, neste momento vazia, e a solidão.
A beleza te deixa desabrigado
E você bem gostaria que a sua casa
Fosse um hotel, qualquer coisa
A beleza te convida
A deixar-se ir, a fantasiar-se, a sumir
A ser esquecido, a ter o nome apagado
Dos documentos.
A beleza
Cabelos molhados como flores
De um amarelo translúcido
Não colhidas e jamais encarceradas
Em cones plásticos, nunca vendidas
Nem expostas em vitrines frias.
A beleza não anestesia
Nem convoca um batalhão de idéias,
Não é uma confirmação
Do socialmente aceito como beleza,
Flora, as pessoas renegam a beleza
Que eu preferia não ter conhecido
E mudam de assunto.
A beleza fere.
Publicitários não entendem
De beleza, belas palavras não são
Beleza, paisagem não é beleza
Beleza não é um jargão.
Beleza não se veste de vermelho,
Não procura cores gritantes
Nem precisa de cumplicidade ou confirmação,
Ou suspiros que são como legendas
Derrotadas de um filme
Mudo. A beleza não
Fala.
A beleza escolhe o azul
Dança de azul, a beleza não faz questão
De ser bela, a beleza não fala, apenas dança e some
Quando sua festa acaba.
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