7/22/2009

"Well, my mother told my father,
just before I was born,
I got a boy child's comin,
He's gonna be, he's gonna be a rollin stone"

Muddy Waters

"Você há de rolar como as pedras que rolam
na estrada."

Lupicínio Rodrigues


Ao contrário do que parece,
Meu irmão é leve.
O que puxa uma sensação de peso para o centro
É a extensão de sua voz.
O que puxa uma sensação de peso para o centro
É a dinâmica dos gestos, de aceno a soco.
O que puxa uma sensação de peso para o centro

São os dentes, quando ele ri ou ameaça,
Como se eles tivessem sido polidos no rio
De pedras.
O que puxa uma sensação de peso para o centro
São os endereços trocados por engano.
O estado de alerta, as garrafas de cerveja
Jogadas no palco porque a banda não presta.

Mas no centro nada.
No fundo eu e meu irmão somos dois vácuos
Que produzem o próprio peso.

Como não podemos ser exatos – a leveza desgoverna –
Acreditamos em fantasmas ou anjos ou lobisomens
E esperamos o Milagre, vagando por aí.

Nós mesmos somos, por dentro, fantasmas sem contorno,
Escondidos sob o pano branco onde se desenham rostos que são máscaras
De raiva e alegria e tatuagens,
Anjos que apenas são asas se desfazendo sob o sol,
Naquele instante antes da queda.

Ao contrário de nossa leveza,
Acreditamos que nascemos como pedras que caem.

Um comentário:

Aldemar Norek disse...

sem palavras, Daniel.
Tem certos textos/poemas que me pegam quando além de sua textura carregam esta voltagem existencial.
Abs
aldemar