12/17/2009

Tudo o que se repete

Tudo o que se repete
se perde.

Um sorriso repentino
guardado nos olhos
é como a sombra do não-acontecido
como se as pálpebras fossem pétalas
guardando um gesto delicado
contra a mesma a mesma e a mesma
cidade petrificada em branco.

Sol e chuva compõem um clima de sonho,
em que um anjo daria coca-cola a um escravo
ou vice-versa, em play e replay,
como se existissem anjos na rede
e eles habitassem em silêncio
o vazio de um espelho (onde o tempo
não passa, não se paralisa, não parte):

um detalhe a mais ou a menos não permitiria
que a imagem abstraísse o desejo
e se encontrasse plena de si e de pedra.
Tudo o que se repete se perde:

Voltar a um gesto que passa
E se apaga é como partir
Ao mesmo sonho, ao mesmo lugar vazio
Que nunca se repete porque é sempre
O primeiro, mais uma vez esquecido.

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