1/12/2010

Os sapos do Manicomio de Mondragon (poema de Leopoldo M Panero)

1.
Ausentes de um plano, os sapos
existem sem objeto.
O sol quente da manhã os envolve,
o vento os acaricia suavemente.
Como a vida da árvore
ou do vento,
assim é a vida do sapo
sem objeto.

2.
Não procure olhos no sapo,
não os tem.
Não procure orelhas
que não tem.
Pra que serve a boca
não sabe.

3.
Um sapo é um círculo, um sol virado pra dentro.
Caminha como os bois – lento como o tempo.
Não há céu que não se vire
de costas quando ele volta
para cima o seu olhar.

4.
Os sapos do Norte
vêm buscar os do Sul.
Encontram o mesmo rosto
e a mesma baba azul.


5.
Não falam dos sapos os homens
que vivem na cidade.
Refugiam-se em suas casas
quando os ouvem passar.

6.
Como um gerânio apodrece
os sapos vivem suas vidas.
Escutam passar as moscas
espantam-nas quando podem.
Como aos corvos a noite
Lhes é sempre favorável.

7.
Têm medo de crianças
e aves, os sapos.
Uma cor pode matá-los
acostumados ao negro.

8.
Surge a aurora no céu,
o sol se esconde atrás dos montes.
Como o passo do sapo
pelos bosques.

9.
Os sapos e as cobras
levantam a pedra e saem
quando o dia escurece
e chove fogo do céu.

10.
São irmãos dos abutres,
assemelham-se a corvos,
conversam com serpentes,
e emudecem
diante de um pássaro preto.

11.
Não têm fé no futuro
os sapos como as aves.
Caminham sobre túmulos
deixando neles suas babas.

12.
Em dias de lua cheia
o sapo se esconde nos bosques.
Quando amanhece, a aurora
o persegue pelos montes.

13.
O jasmim invade os campos
enquanto o sapo se arrasta
com uma espinha no flanco.

14.
Os sapos não têm nome
Quando morrem no monte.

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