Escrevendo como um louco pra tapar os buracos. Este vazio na boca
do estômago. Nascemos num mundo sem deus e a luz é abundante, mas insuficiente pra aquecer nossas almas congeladas de pavor. Oito-Olhos é apenas alguém que acredita no mundo e na vida, atravessa todos os túneis e considera a morte, a sua meu amor e a de todos outros, um fato consumado. Entrevejo anjos se dissolvendo nessa luz fraca pra aquecer nossos corações, mas forte pra destruir o tênue fio do desejo. Como o desejo é forte pra me fazer sentir que sou apenas um e um é pouco e o tempo não é curto é apenas fechado, uma sala de paredes que se fecham sobre você e você quer saltar fora do tempo. Como o desejo é fraco pra dar conta de tudo isso, o desejo nada pode contra essa luz opaca e frágil e ainda assim somos mais frágeis que ela e mais frágeis que o desejo. Quais são seus planos pra esta noite? Pra amanhã? Alguma viagem impossível, um reencontro: o tempo não se deixa enganar. Preenchendo o vazio
de sentido com palavras. E como as palavras são fracas, ainda mais fracas que nós, mais fracas que a nossa voz, onde elas deslizam e se dissolvem, à luz fraca do dia. E como você gostaria que as coisas falassem, não só as flores, que tudo falasse, ao menos seria menor a solidão. Mas nada fala, tudo é rumor. Tudo é desordem e as pessoas tentando se esconder disso dando ordens. Nós também não falamos, apenas tentamos tapar os buracos com palavras. Alguma ação que me faça esquecer que o universo é surdo que estamos sozinhos que a luz é forte pra meus olhos, mas fraca pro meu coração e que a luz também não diz nada. O presente é frágil, a vida é frágil, cada gota de alegria é frágil e no entanto a memória é ainda mais frágil e o medo é maior porque é a forma de lucidez que resta pra habitantes cegos de um mundo vazio
e como todas as noites rezo (pra quem?): só mais um dia, mais uma noite, mais um dia, mais uma noite, mais um dia de alegria é o que peço ao Acaso que nos persegue no claro intuito de criar mania de perseguição & delírios coletivos. Acreditar em palavras é a pior forma de loucura. Ainda assim rezo e entrego aos deuses, sejam quais forem, ao asfalto, às luzes, às armas de fogo, às mesas, ao entardecer vermelho da cidade meu pedido solene: só mais um dia, mais uma noite de alegria.
Quando você é vulgar: apenas negocia convenções, não domina os segredos, qualquer um pode dizer que árvore é o nome de uma cidade, que cidade é o nome de uma arma, que arma é um sentimento, que sentimento é o nome de um faraó. A língua epistolar é a conversa vulgar no desentendimento, mesmo que este ocasione encontros repentinos e imprevistos. É quando uma criança autista diz pra você: se o mundo gira, porque você não fica tonto?
12/29/2010
12/27/2010
Gravura de Escher
Dois olhos se mirando. Quem gravou essas finas pétalas negras, como um sol absorvendo a luz num suave céu de castanho noturno.
Dois olhos se mirando: entre eles não há espelho, o corpo é um anjo formado por anjos. A alma não é una coisa sólida, é miríade, íris, anjos migrando de um céu a outro e falando aos meus olhos em línguas outras, desconhecidas
minhas.
Quem gravou essas pétalas negras por dentro dos meus olhos. Minha memória, um momento de anjos falando em mim por línguas estranhas.
Corpo é anjo formado por anjos e cada anjo que perco e se encontra nestes outros olhos canta sua música silenciosa, abstrata e carnal. Os anjos cantam da vida, cantam de pétalas negras em céu noturno, silencioso e pulsante de quase palavras, miríades de nomes do amor. Íris:
amor, os seus nomes (de anjos) estão gravados em mim
à maneira negra.
Dois olhos se mirando, tateando-se. Táteis como o encontro de peles, suave calor que brota dos seus olhos, finas pétalas negras em céu castanho, anjos cantando sua língua de flores, impossíveis e reais, num céu noturno que desenha à maneira negra
meus signos. É estranha, convulsiva a língua dos anjos, gravada com finas pétalas à maneira negra nos seus olhos silenciosos cantando à maneira dos corpos que se encontram, não como espelhos, em impossível céu de anjos.
12/22/2010
Plano narrativo para uma colagem
Cabeça tronco membro
Cabeça tronco caule
Frutos – olhos
Oito-Olhos
Cabeça teia olhos
Rede:
Oito-Olhos é ninguém
É ritmo
Passagem entre cabeças
Tronco e teia
Visível nos seus efeitos:
O medo de ser
Risível
Quanta gente interessante no mundo
Porque logo eu
Euzinho aqui
Euzinho
Por que você me ama,
Oito-olhos me flagra
Em delito da banalidade
O medo
Que diferença faz
A minha morte
Por vezes o silêncio
Te envolve como um animal
De tocaia
Oito-Olhos:
A semprevigilante câmera de sal
E a banalidade da vida pode doer tanto
E a poesia é meu único meio de tornar o inferno
Objetivo, distante como um dado da realidade
E a poesia é minha oração à procura do coração das coisas
Os corações das coisas que são anjos
Que talvez despertem se eu encontrar o caminho certo
(Seu coração é um anjo batendo no meu peito)
E a poesia é a mais descartável das artes
Oito-Olhos não se cansa de me lembrar,
Inferno é surdez absoluta do poder
Mais tagarelice ilimitada de anjos perdidos e solitários.
Cabeça tronco membros
Palavras
Telepatia: o soberano
Desdobra discursos que são caras
Que são máscaras interligadas
Por arames, teias
O banal poder de matar
A pequena morte
Destinada a cada um.
Um corpo leva a outro e este a outro e este a outro e este a outro
Oito-Olhos não é o todo
E cada um, é a rede,
O dá no mesmo:
Antevejo um monstro de oito cabeças
Os olhos de Kafka a boca de Boris Casoy
Gritando como no quadro de Munch
Um braço fino e longo como de aranha
Ligando esse corpo à cabeça de Freud
Que é um vaso onde está plantado o corpo de uma celebridade
Qualquer
Com a cabeça de um grande líder
Qualquer
E a cabeça é um caule de onde brotam
Como flores e olhos
Mais ramos, caminhos
Pra uma terrível, banal e ridícula
Inflorescência do poder.
Cabeça tronco caule
Frutos – olhos
Oito-Olhos
Cabeça teia olhos
Rede:
Oito-Olhos é ninguém
É ritmo
Passagem entre cabeças
Tronco e teia
Visível nos seus efeitos:
O medo de ser
Risível
Quanta gente interessante no mundo
Porque logo eu
Euzinho aqui
Euzinho
Por que você me ama,
Oito-olhos me flagra
Em delito da banalidade
O medo
Que diferença faz
A minha morte
Por vezes o silêncio
Te envolve como um animal
De tocaia
Oito-Olhos:
A semprevigilante câmera de sal
E a banalidade da vida pode doer tanto
E a poesia é meu único meio de tornar o inferno
Objetivo, distante como um dado da realidade
E a poesia é minha oração à procura do coração das coisas
Os corações das coisas que são anjos
Que talvez despertem se eu encontrar o caminho certo
(Seu coração é um anjo batendo no meu peito)
E a poesia é a mais descartável das artes
Oito-Olhos não se cansa de me lembrar,
Inferno é surdez absoluta do poder
Mais tagarelice ilimitada de anjos perdidos e solitários.
Cabeça tronco membros
Palavras
Telepatia: o soberano
Desdobra discursos que são caras
Que são máscaras interligadas
Por arames, teias
O banal poder de matar
A pequena morte
Destinada a cada um.
Um corpo leva a outro e este a outro e este a outro e este a outro
Oito-Olhos não é o todo
E cada um, é a rede,
O dá no mesmo:
Antevejo um monstro de oito cabeças
Os olhos de Kafka a boca de Boris Casoy
Gritando como no quadro de Munch
Um braço fino e longo como de aranha
Ligando esse corpo à cabeça de Freud
Que é um vaso onde está plantado o corpo de uma celebridade
Qualquer
Com a cabeça de um grande líder
Qualquer
E a cabeça é um caule de onde brotam
Como flores e olhos
Mais ramos, caminhos
Pra uma terrível, banal e ridícula
Inflorescência do poder.
12/19/2010
Mundo cão
Circunlóquio
Bela palavra, pernóstica
Para um mundocão.
Assédio moral
De passados mal resolvidos.
Língua
Cheia de carrapatos.
Estupro mental
Em nome da coletividade,
Camaradagem
Na sordidez.
Sórdida, bela palavra
Pra um mundocão.
Vida surtada
Adultério por conta
Do carro tanque de guerra.
Classe média
Rótulo adulterado
Adultério, bela palavra
Pra um mundocão.
Felicidade de porta trancada.
Parafusos de janela
Guardados no vaso de flor,
Nomes de flor
Flores famintas, rodas dentadas
No chão
Desmesura
Bela palavra pra um mundocão.
Bela palavra, pernóstica
Para um mundocão.
Assédio moral
De passados mal resolvidos.
Língua
Cheia de carrapatos.
Estupro mental
Em nome da coletividade,
Camaradagem
Na sordidez.
Sórdida, bela palavra
Pra um mundocão.
Vida surtada
Adultério por conta
Do carro tanque de guerra.
Classe média
Rótulo adulterado
Adultério, bela palavra
Pra um mundocão.
Felicidade de porta trancada.
Parafusos de janela
Guardados no vaso de flor,
Nomes de flor
Flores famintas, rodas dentadas
No chão
Desmesura
Bela palavra pra um mundocão.
12/15/2010
Ninguém pode me acusar
pus lá no vertigemdevestigios o começo de um argumento que andei montando, pensando ou num filme curta-metragem ou num conto. A história é a de um psicólogo em crise existencial porque se apaixonou por uma psicótica, é amigo de um maluco e acha seus colegas de profissão uns otários e fdps.
Conspiração
Despertar de pesadelo
Sair pra dentro
De pesadelo, teia
De aranha, novelo na boca
Do estômago.
Tantas luzes, areia
Queimando os olhos
Lobos, Oito-Olhos
Pela janela –
Ferindo
E conferindo.
Teias tecidas na língua
Veneno de língua
Armadilhas
Palavras alheias
Mordem suas pernas
Dentro do apartamento
Sob as cobertas
Caninos longos e afiados
Por dentro da sua cabeça
E nem assim:
Uma coisa é certa –
Há uma conspiração em curso.
12/13/2010
A decadência da classe média não me pega de surpresa
Passei parte da minha infancia,os finais de semana,num clube lá. Tinha autofalantes espalhados plugados numa rádio aí,brega pra caraio,hoje procurando coisa pra ouvir me deparei com essa musica e lembrei na hora do clube.Campari com limão no copo.Histórias de adultério na sauna.Moleques espiando mulheres peladas no banheiro.Vagas privativas pra milicos de alta patente. Cheiro de bronzeador misturado com batata frita. Xanadu, o Barco do Amor. A piscina exclusiva pra jovens sarados e gostosas. Pequenos delinquentes mijando nos sofás do salão de festas, jogando lama nos carros. Uma vez um amigo do meu pai disse na mesa: concluí que sou feio mas sou bom de cama. São histórias intermináveis. A decadência da classe média não me pegou de surpresa. Sempre tinha um papo sobre quem era amante de quem, uma mistura de inveja, admiração e desprezo pelos cafajestes. A coroa, uns 50 60 anos que ia tomar banho de sol de fio dental. Um clima meio nelson rodrigues marcelo mirisola misturado com apocalipse sem Juízo Final, só o fim dos tempos continuando mesmo, passando por cima dos desavisados. "da próxima vez que o mundo acabar, vai ser na base do fogo", me lembro dessa conversa. E tudo isso não seria nada sem o fundo musical.
Algumas vezes alguém cagava na piscina, só de sacanagem mesmo.
12/08/2010
O que você tem a ver?
A luz, pequenas clareiras nos cílios do seu olho direito, contorna o seu braço. Você está de frente pra sua sombra, inerte. Acaso uma agulha ferisse suas mãos, a sombra não sentiria a mesma dor: sentido dizer que a sombra é sua? O que resta de você é sombra, impressões alheias em divagações de terceiros. O que você tem a ver com isso?
Você não consegue respirar sem palavras?
Você não consegue respirar sem palavras?
12/04/2010
Repercussões do tempo
Da natureza do tempo
Do início ao fim
Não ser
Natureza.
Hora tempo é viscoso
Fluido vagar
Num aquário ácido
E espesso
O mundo é musgo
Luz molhada
Grudada nas mãos, óleo
Dissecando as horas e o tempo
Não passa, mergulha
Pássaro lento
E faminto no lodo.
Hora tempo é caminhar
Nos túneis de Brasília
Sanguessugas nas veias –
Anemia parteira de fantasmas,
Tempo de desistir.
Hora tempo é campo aberto
Ser observado
Ave de rapina
Sangue nos olhos, arame farpado
Ligando a desgraçada marionete
E a morte.
Você doa sangue
Ao sol e a luz pesada
Do fim dos tempos que não cessa.
Hora o tempo prolifera
Palavras ocas de almas secas
Gravetos estalando sob o sol
E você pede que o tempo se cale,
Mas lá
O tempo não é, seria preciso
Um exorcista de relógios –
Os ponteiros são espinhos.
(Ou que o desejo envolvesse
O tempo
Num renovado
Abraço viscoso)
Do início ao fim
Não ser
Natureza.
Hora tempo é viscoso
Fluido vagar
Num aquário ácido
E espesso
O mundo é musgo
Luz molhada
Grudada nas mãos, óleo
Dissecando as horas e o tempo
Não passa, mergulha
Pássaro lento
E faminto no lodo.
Hora tempo é caminhar
Nos túneis de Brasília
Sanguessugas nas veias –
Anemia parteira de fantasmas,
Tempo de desistir.
Hora tempo é campo aberto
Ser observado
Ave de rapina
Sangue nos olhos, arame farpado
Ligando a desgraçada marionete
E a morte.
Você doa sangue
Ao sol e a luz pesada
Do fim dos tempos que não cessa.
Hora o tempo prolifera
Palavras ocas de almas secas
Gravetos estalando sob o sol
E você pede que o tempo se cale,
Mas lá
O tempo não é, seria preciso
Um exorcista de relógios –
Os ponteiros são espinhos.
(Ou que o desejo envolvesse
O tempo
Num renovado
Abraço viscoso)
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