12/22/2010

Plano narrativo para uma colagem

Cabeça tronco membro
Cabeça tronco caule
Frutos – olhos
Oito-Olhos
Cabeça teia olhos
Rede:

Oito-Olhos é ninguém
É ritmo
Passagem entre cabeças
Tronco e teia
Visível nos seus efeitos:

O medo de ser
Risível
Quanta gente interessante no mundo
Porque logo eu
Euzinho aqui
Euzinho
Por que você me ama,
Oito-olhos me flagra
Em delito da banalidade
O medo
Que diferença faz
A minha morte
Por vezes o silêncio
Te envolve como um animal
De tocaia

Oito-Olhos:
A semprevigilante câmera de sal
E a banalidade da vida pode doer tanto
E a poesia é meu único meio de tornar o inferno
Objetivo, distante como um dado da realidade
E a poesia é minha oração à procura do coração das coisas
Os corações das coisas que são anjos
Que talvez despertem se eu encontrar o caminho certo
(Seu coração é um anjo batendo no meu peito)
E a poesia é a mais descartável das artes
Oito-Olhos não se cansa de me lembrar,
Inferno é surdez absoluta do poder
Mais tagarelice ilimitada de anjos perdidos e solitários.


Cabeça tronco membros
Palavras
Telepatia: o soberano
Desdobra discursos que são caras
Que são máscaras interligadas
Por arames, teias
O banal poder de matar
A pequena morte
Destinada a cada um.

Um corpo leva a outro e este a outro e este a outro e este a outro
Oito-Olhos não é o todo
E cada um, é a rede,
O dá no mesmo:

Antevejo um monstro de oito cabeças
Os olhos de Kafka a boca de Boris Casoy
Gritando como no quadro de Munch
Um braço fino e longo como de aranha
Ligando esse corpo à cabeça de Freud
Que é um vaso onde está plantado o corpo de uma celebridade
Qualquer
Com a cabeça de um grande líder
Qualquer
E a cabeça é um caule de onde brotam
Como flores e olhos
Mais ramos, caminhos

Pra uma terrível, banal e ridícula
Inflorescência do poder.

Nenhum comentário: