1/24/2012

Em meio ao sono mais profundo você desperta assustado e abre os olhos e enxerga vultos respira fundo e adormece novamente, apagando-se às margens da vida. Esse é o seu grande privilégio: meus olhos são os olhos da noite, você diz a si mesmo apegado nesse breve intervalo, as pedras não suportariam o próprio peso se não tivessem nome e a indescritível obscuridade de tudo sem um relance – a potência das coisas de serem vistas se consagra na brevidade dos meus olhos. Gerações e gerações todas assim, vivendo de intervalos, feitas às pressas, me deixaram esse maravilhoso instrumento com que me consolo: a verdade é um piscar de olhos. Sei quem sou e qual é o meu papel num cenário em que minha grande contribuição é respirar. Deus me fez para que eu testemunhasse tudo e ele se apaixona em suas criaturas quando despejo MINHAS palavras sobre elas. Murmuro, balbucio fragmentos: talvez nem mesmo garatujas: quem sabe nossas palavras vaguem por aí como aqueles animais absurdos do fundo do oceano: isto é: se houver uma inteligência nisso tudo. Tudo é completamente distorcido pela compressão do Absoluto num instante, intuímos.

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