4/26/2012

TFC

Eu acho que foi de propósito
Eu sei que ela sabe de fato

Passei meses debruçado
Sobre sua indiferença. Ela (1),

Que com seus vários problemas
Vive o paraíso da minha ignorância,

Olha pro lado
Como os garçons que chamo

(Se eu te chamar, venha)

Você não está preso no rodapé
De uma






















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1 - Tradutora feminista canadense.

5 comentários:

Eliana Pougy disse...

Da música que existe em nós


Ele fala e eu escuto, atenta. Sua boca se move em variações circulares, ocas. Seus olhos arrebentam-se em mil sóis, no branco de um céu de inverno. Faz frio. Penso em suas mãos, há pouco. Eram quentes. Ele fala mais uma vez de seus feitos, de seus amores, de seus grandes e enormes planos. Aos poucos, esqueço tudo aquilo que ele diz: ouço apenas a música que se desenha entre as mesas e as cadeiras. Ele repete erres e esses de um jeito tão doce... suspiro, como uma criança com sono. Ele sorri. Nossos cheiros se tocam no ar, e o vento gelado que entra pelas frestas das janelas, cristal transparente, estala em seus dedos. O som de sua voz preocupa-se comigo: você entende? Concordo com um movimento de canto de boca, e ele fecha os olhos. Aproveito para registrar o contorno de seu rosto, a cor de seus cabelos, o áspero da barba. Ainda sinto sua aspereza em meus lábios. Passo a língua neles e eles ardem. A música diminui o ritmo, abaixa a intensidade. Seu olhar foge numa menina que chora, na mesa ao lado. Fixo o meu em seus braços, e me lembro do dia em que ele me abraçou pela primeira vez. Gosto deles, da textura da pele, da força que vem deles. Meu frio aumenta. A janela ao meu lado embaça com minha respiração ofegante, nem vejo mais os carros lá fora, nem as pessoas passando, nem a chuva que começa a cair. A imagem dele me amando naquele dia volta e abaixo a cabeça segurando a boca, japonesa. Ele me encara: você entende? Não falo nada. Apenas ouço a música. Ele se levanta e vai embora, me deixando sozinha, afundada em minhas mãos trêmulas e meus cabelos soltos, sem entender.

Haemocytometer disse...

Lindo, Eli! Eu já não conheço esse texto??

Eliana Pougy disse...

Sim. Achei que faria um par maravilhoso com esse poema. Fiquei muito a fim de criar essa personagem - tradutora feminista canadense.

Masé Lemos disse...

adorei

Haemocytometer disse...

Vocês sabem dessa história? As tradutoras feministas canadenses (de Quebec), quando viam algo machista num livro, alteravam o texto enquanto traduziam, pra mulher ficar em posição superior :) quis deixar essa dúvida, como se meu texto tivesse sido alterado ;)