7/11/2012

Saturno na esplanada

As baixas luzes amarelas, sua pele de cobre, as sombras retorcidas, música de toda parte se misturando sem criar um repouso nas pegadas marcadas, fundas, no concreto da calçada –
até se pode pensar que tudo parece um sonho, mas
não é sonho. Você pode surtar a qualquer momento. E quando você morrer e quando todos morrerem o jogo cósmico das imensas esferas incandescentes das ondas sonoras no colorido dos planetas vai continuar, indiferente.

2.
Brilhos de estrelas caem sobre nós como migalhas de pão varridas de uma mesa desabitada soprada pelo vento insciente.
Menos.
O universo prescinde de testemunhas.
3.
Veja (a palavra) estrelas – a palavra não é visível.
Estamos em pleno oceano tentando buscar alimentos com uma rede invisível (imaginária).

4.
Tanto faz se é boson de higgs ou partícula de deus. Persiste a hybris de que nós com nossa tosca linguagem podemos e devemos dar nome às coisas.

5.
Amoras esmagadas na calçada. Ela diz que o tempo não perdoa. Minha voz sustenta um canto soprado pela força emanada de algum planeta. Mas ele, por sua vez, sustenta-se em nada. Nada disso foi planejado. Como agora mesmo, do nada, veio a expressão: furiosamente lento.
As palavras, porém, nem sequer tocam a superfície de gelo e gás que se move na distância incalculável.

6.
Colha Saturno, com os olhos. Cole o planeta numa superfície apreensível pela vista. Bege em meio ao espaço negro. Dois pontos brilhantes. Um belo acidente captado à distância. A fome cega dos anéis em quem coleciona experiências.
O planeta não me deixa esquecer mais nada. Mas ele mesmo não se lembra nem se esquece de nada.

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