Sinceramente não quero fazer da poesia, em torno da
poesia um cavalo de batalha, tantas gerações
de mortos se sucederam, antes desta e de outras que virão e o primeiro assassino
da poesia foi o antigo mitógrafo ao demonstrar às musas sua condição
de figura de linguagem e a morte da poesia é como a morte
das pessoas – algo que se repete.
Mas é que em Brasília alguma coisa faz as paredes falarem, não sei
se é a artificialidade
do lago que cria essa mescla de nostalgia e insólito
ou se a imensa múmia do faraó em que habitamos
como vermes petrificados respira pelo concreto. Alguma coisa
dá socos nas paredes
arrasta móveis para nos deixar insones e sempre que alguém
aproxima o ouvido das paredes de sua morada se ouve
nitidamente, gritos surdos, saídos não se sabe de que garganta.
Todos conhecem o centro monumental
de Brasília – mas, seus centros fugidios são outros:
a poltrona em que estava sentado Rawet morto
um livro e um pacote de sopa knorr no colo
o porão úmido onde foram parar os livros do homem que fundiu os horizontes,
único filósofo da cidade do sol parteiro de verdades, do invisível mar sem fim
no horizonte do cerrado plano e liso visto ao longe, mas cheio de detalhes, de
flores, pétalas finas, agudas e coloridas como gritos grudados
nas paredes quentes: paredes de palácios, de garagens, de ministérios
de apartamentos solitários – na cidade silenciosa, mas nunca muda.
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