8/06/2012

Quando um sujeito cansado chuta o balde, taí uma coisa digna de nota.

Espasmos de lucidez intermitente, êxtase da barata escalando a parede, qualquer comparação soa compacta, um símile da vida em sua ausência de motivo. É sórdido. É bonito de se ver. É promissor. Fulgura. Incita. Que coisa linda de se ver, o horizonte escondido, atrás do vermelho das nuvens densas anunciando a noite, e ele ali: não menos ínfimo por isso. O problema é não ser uma centopéia pra não poder chutar tantos baldes, é o que ele parece dizer. Alguém tem que ser o Cristo, os justos pagarão pelos pecadores e nas redes sociais ainda se pagarão sapos pela atitude impensada. De fato, é um riso venenoso de um sapo daqueles peçonhentos que solta veneno quando pressionado. É a mãe natureza naturante, desnaturada. Não é edificante. Mas é bonito, ainda assim. Um evento gratuito, hermeticamente fechado em si mesmo. Um instante. Foi, e não volta. Se você pensa que a única transformação válida é aquela que deixa uma herança, isso aí não vale nada. Mas, eu digo e afirmo. E canto, nesse canto tosco que mais parece um ensaio de poema, um mero desabafo, a coisa mais baixa na escala dos enunciados: eu canto os pobres diabos que um belo dia e desabafo aparentemente do nada, chutem-se baldes e depois a vida se recolha e volte ao normal. Isso é o mito, eclodindo na tua cara, é o que resta da verdade, desde que ela fugiu, com os deuses, pra trás do horizonte vermelho.



Nenhum comentário: