Silêncio par(a)
Mar
O Silêncio é de pedra.
Pedra, pedra, pedra.
Imenso é o silêncio do jardim devastado,
Quando o jovem noviço coroa a fronte com folhagem marrom,
E seu hálito bebe ouro gelado.
As mãos tocam a idade da água azulada
Ou em fria noite os rostos brancos das irmãs.
Porque teu olhar é de pedra
Tua boca é de pedra
E dormes onde avançam
Hidras
De horas salobras
Sob galhos podres, por muros cheios de lepra,
Por onde antes passou o santo irmão
Mergulhado nos doces acordes de seu delírio.
Porque tua garra é de pedra
Teu quadril é de pedra
Teu ódio é de pedra.
Pedra, pedra, pedra.
Tudo passou onde antes era pedra
E tudo retornou
Onde agora é só pedra
Só pedra, pedra e pedra.
Assustador é o declínio da raça.
Neste momento, os olhos do contemplador enchem-se
Com o ouro de suas estrelas.
E agora o Mar
Choca-se contra as pedras
Raivoso e verdeazul
Porque teu silêncio é de pedra.
Pedra, pedra, pedra.
(Imagem: pintura de Karl Hofer)