10/17/2013

Sol negro

A luz do sol
            perturba:

            Injete bílis negra
            até a raiz das penas amarelas
            contra a transparência vítrea
            da vida, do ardor nos olhos
            até a escuridão se enovelar
            ao redor do tempo –

            por dentro dos túneis da cidade
            dos vasos sanguíneos,
            da capilaridade do terror –
           
            Um redemoinho
            em forma de coração
            com poeira
de sol carbonizado.

*
Encubra o sol
das tuas pupilas na praga-nuvem e na praga-vento
interrompido por um denso raso
ou fino profundo,
empalidecido até a brancura:

que o sol se sufoque de todo o céu.

*
Que o sol se refugie
além da chuva mais forte
como um trem descarrilado
em flashes tremendo vagamente
através de todo o ar
e fluxos de duplas incríveis de fogo vermelho-violeta
bifurcadas ou em zigue-zague,
ondulando no mesmo instante
e duradouras no olho por pelo menos meio segundo:

Mas que seja um preto seco véu
que nenhum raio de luz do sol possa penetrar
ao sol alimentado pelo betume de todos os caminhos
ao sol holofote abstrato que vai te engolir na rua sem saída
através do imutavelmente sombrio abril,
por meio do desanimado maio
e escurecido no junho da manhã,
ou depois da manhã:

cinza

envolto assim.

E isso é uma coisa nova, e muito terrível.

*
O novo sol
parece, em parte, como se fosse feito de fumaça venenosa –
existem, pelo menos, duzentas chaminés de fornos num quadrado de dois quilômetros em cada lado de mim.
Mas a mera fumaça não sopraria para lá e para cá dessa forma selvagem.
Ele olha mais para mim como se fosse feito de almas dos mortos, os que ainda não estão fora, aonde eles têm que ir, voando aqui e acolá, duvidando, eles mesmos, do lugar.
Você sabe, se é que há coisas como almas
e se algumas delas assombram lugares onde foram feridas, deve haver muitas acima de nós:
sem chuva para falar e nenhum vislumbre de azul











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