“Disse Jesus: Mostrai-me a pedra que os
construtores rejeitaram. Ela é a pedra angular.”. Evangelho de Tomé
O
olho tem células para ver o breu. Por dentro das pálpebras fechadas, o que
ilumina a cena é o desejo. Uma luz diáfana, um véu de orvalho, uma água-éter
que abriga o meu duplo. Ele partiu de mim para esse lugar em você, que não tem
lugar no mundo. Seus olhos fechados como duas órbitas lunares em minha
imaginação. Eu poderia me comunicar com ele – algo dessa luz chegaria até mim?
Naquele momento eu provavelmente subia maquinalmente os degraus, ou me deitava
tentando afugentar pensamentos de quem vive no lado escuro da estrada.
*
Depurado
em sua música muito específica – uma música assim como descer e subir escadas
em silêncio – o chumbo que respiro se rarefaz em nuvem translúcida, uma nuvem
que sempre está chegando, pressentida como algo que me passa – como a mente
pulsa no coração quando acelera e é sentido em outra pele. Onírico, na varanda
um leão vermelho observa a pedra angular.
*
Ser sonhado por uma flor. Céu
dourado amalgama-se ao rosto – uma pedra vermelha dissolve a imaginação,
volatilizando a poeira cinza depositada no fundo entristecido da vida. Meu
coração reluz como um ouro paradoxalmente leve e gratuito, o ouro sonhado pelos
mágicos que almejavam a amizade entre o cordeiro e o leão, a humanidade
renascida. Ser sonhado pelo véu mais puro, em silêncio, de mãos dadas,
respirando o olhar mais cativante que te põe em nuvens.
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