4/21/2014

Decompor, dissolver, purificar

“Disse Jesus: Mostrai-me a pedra que os construtores rejeitaram. Ela é a pedra angular.”. Evangelho de Tomé


          


O olho tem células para ver o breu. Por dentro das pálpebras fechadas, o que ilumina a cena é o desejo. Uma luz diáfana, um véu de orvalho, uma água-éter que abriga o meu duplo. Ele partiu de mim para esse lugar em você, que não tem lugar no mundo. Seus olhos fechados como duas órbitas lunares em minha imaginação. Eu poderia me comunicar com ele – algo dessa luz chegaria até mim? Naquele momento eu provavelmente subia maquinalmente os degraus, ou me deitava tentando afugentar pensamentos de quem vive no lado escuro da estrada.

            *
Depurado em sua música muito específica – uma música assim como descer e subir escadas em silêncio – o chumbo que respiro se rarefaz em nuvem translúcida, uma nuvem que sempre está chegando, pressentida como algo que me passa – como a mente pulsa no coração quando acelera e é sentido em outra pele. Onírico, na varanda um leão vermelho observa a pedra angular.

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            Ser sonhado por uma flor. Céu dourado amalgama-se ao rosto – uma pedra vermelha dissolve a imaginação, volatilizando a poeira cinza depositada no fundo entristecido da vida. Meu coração reluz como um ouro paradoxalmente leve e gratuito, o ouro sonhado pelos mágicos que almejavam a amizade entre o cordeiro e o leão, a humanidade renascida. Ser sonhado pelo véu mais puro, em silêncio, de mãos dadas, respirando o olhar mais cativante que te põe em nuvens. 


            

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