4/13/2014

 Ter que lidar com a própria mediocridade – talvez isso não fosse matéria de lirismo. Miséria emocional burguesa, essas coisas. Vá pro cinema, passeie ou fique em casa, deposite sua dor em contas alheias mediante ameaças de choros histéricos. Apague a luz, abra a janela, acenda a luz, feche a janela, vá até a estante para verificar se o livro ainda está lá, abra a mala, sinta o cheiro de papel velho, pergunte-se quando tudo começou, quando você conheceu o Medo.

Derrame o vinho nos degraus, autoconsumir-se não é inebriante. Veja o sangue na calçada, brotando entre as raízes que rompem à força o concreto armado e se debruce sobre as flores pálidas e estrelas apagadas atrás de monumentos, mas não confunda sua solidão com qualquer evento natural ou cósmico. Procure algum amparo mentiroso em qualquer místico anacrônico. Fique sabendo que quem ama e exige atenção ao seu amor causa tanto mal quanto quem odeia.  E então constate, certamente o Medo chegou antes: antes da mala, da janela, da luz e da estante, antes da miséria emocional burguesa e seu lirismo. Tome ar, respire fundo e mergulhe. Mergulhe. E mergulhe. 

Nenhum comentário: