Noite passada fui tragado
por um espelho
Alguma coisa de líquens vampiros naquelas margens,
De seres desclassificados na sedimentação do rancor
Como se do outro lado do espelho
Da vida, imerso em nada mordente de musgo,
Meu sangue se esverdeasse todo em transparência
À intensidade anímica de um porco espinho.
Não há reflexo que não vomite monstros
No sonho da razão.
Nada de palavras que não arrombem simetrias.
Você não vai se reconhecer.
*
Você ainda pensa
que estão te esperando
Mensageiros, espiões, ou todos aqueles
Que foram massacrados no caminho.
Você acredita que o tempo é todo seu.
O tempo, essa vertigem de arames enrodilhados
No vazio deixado por deus quando suicidou-se em universo
Conheceria bem os seus projetos.
Você ainda supõe cautela e justiça
Rumo a um final de sabedoria
E que toda premeditação um dia será premiada.
Você, com essa coroa de punhais caindo da janela
Você, em cujo peito se anuncia uma constelação
De vagalumes alucinados
Gritando seu nome, o seu nome podre, na surdez pétrea do
mundo.