1/07/2007

Outros Janeiros

O vapor subia dos paralelepípedos
Rumo à capital na ambulância
Com o velocímetro estragado
Sobre a estrada verde-enxofre –
O médico apenas queria
Ser curtido na novela com a família
Tudo menos
Receitar infecção urinária.

Na pracinha
O jegue morria engasgado
Comera um saco plástico brilhante (este sim
Tema consagrado aos ufólogos da beira-mar).

Na casa amarela, varanda de tubos PVC,
Outro homem morreria outro dia
A família (sobretudo a filha aroma dama-da-noite)
Acreditava em mera indigestão
Causada por siris no lugar do enfarto.

Na praça central, entre carros produtores do barulho
Anunciando a alegria
Desesperada naquele sítio
Um casal se esfregava
Lambuzava no capô nupcial

Ai! quero despencar
Do céu
Diretinho nos teus
Braços (armies)

Ao consultor de desastres - Bruxo de veraneio
A menina, indefesa lágrima sozinha
Caindo sobre os lábios pedia
- Quero que você me aconselhe.
O ex-namorado tocava sua música de amor
Para a atuação pornomobilística na Outra.
O sábio da filosofia a golpes de martelo
De quebrar caranguejos
Quase vomitava-lhe o capeta
(era daquele tipo quente)
No fundo pensando num beijo salgado
- Da próxima vez escolha uma canção melhor
E pare de quebrar estes espelhos,
No verão você caminha sem sapatos.

6 comentários:

Masé Lemos disse...

bacana, daniel

ser curtido ou ter curtido?

daniel norek
postei uma tradução˜do bashô feita pelo francenetti pra vcs.....

beijos

Daniel F disse...

Oi Masé,
ser curtido mesmo, como couro de boi...rs

Bashô sempre bem vindo.

Aldemar Norek disse...

Olá, Masé.
Valeu pelo Bashô. Gosto de ler haikai. Os orientais. Tá certo, alguns do Leminski, que aliás traduziu Bashô tbm, vcs devem conhecer.

Daniel, gostei do poema, tvz retrabalhasse algo. E "comera" é o fim da picada. Pode mudar este tempo verbal? Sei lá, sempre me cheira a algo pueril. Será preconceito?

Daniel F disse...

Oi Aldemar,

não acho que seja o fim da picada.. escolhi comera por causa de algumas assonancias e porque sei la´fica meio engraçadinho. Você tem outras sugestões? Abraço!

Anderson Dantas disse...

Daniel, tem algo nos teus poemas que eu gosto, tem momentos cintilantes, só acho que deves suprimir algumas passagens, torná-los mais enxutos, quando conseguir esse feito, creio que teus poemas passarão a ser sóis ...

Aldemar Norek disse...

Sabe o que é? tenho uma certa implicância mesmo com este"tempo" pq é sempre (ou muito) usado em subliteratura.
virou um preconceito.
sempre que começo a ler um conto e rola o "tivera", "comera", "usara", etc, acho artificial e paro de ler.
um dia passa...rs.
mas dentro daquele conceito de trabalhar justamente com as sobras da indústria cultural, bem, ficaou legal e irônico.
abraços

ps: onde anda Eliana? e o Löis?