6/03/2008

nº 18

Na impossibilidade de serem místicos
('ah, luzes da cidade,
por que, distraídas, não acendem meu destino?'
)
seus olhos colecionaram sexos que brilham à noite como flores planas e úmidas
de duas hastes.
O amparo do cético é o abismo, como se Deus
ejaculasse indiferente, em sua túnica violeta. Você, arlequim, só queria
despir o que é e se perder na fuzarca do mundo. Aqui
cada um escolhe o próprio veneno, mas não se sabe
que inseticida mata, definitivamente, os vermes
da paixão.

(das "Notas Marginais".)

2 comentários:

Daniel F disse...

Oi Aldemar,

acho que já te falei que não gosto muito do final desse poema, "os vermes da paixão".

mas fora isso, o mais importante da semana passada pra mim foi que eu li uma das coisas mais marcantes da minha vida. Nadja, do Andre Breton. Poucas coisas criam uma atmosfera tão forte na vida da gente, vão além da literatura, até da boa literatura.

A pergunta é: a vida, o sistema, a sociedade, o poder, sei lá o que, já não se encarrega de matar a paixão?

Nadja é lindo por conta disso, mostra que a paixão sempre é jogada no hospício. E acho que hoje em dia, mesmo com esse discurso autoajuda do seja você, seja feliz e o escambau, a paixão vive na porta do hospício. Paixão não tem nada a ver com felicidade e realização pessoal. Essas aí sim, mereciam um bom inseticida.

Abraço,

Daniel.

Aldemar Norek disse...

Daniel,
tudo bem?
Sabe, eu também não gosto deste final meio 'sei-lá-não-sei' vermes da paixão. Acho que é a discussão interna entre o apolíneo e o dionisíaco (li outro dia uns trechos do Nascimento da Tragédia do F.N. e achei incrivelmente simples e claros e transparentes e geniais - um convite à dança). O que gosto neste poema (?) é a referência (hard) ao Opiário do A.C. (os doutos chamariam de 'intertextualidade', com licença da má palavra, meio que escondida (escondida apenas para os doutos).Acho que só isso eu gosto nestes versos.
Sobre a paixão, a sucessão dos segundos já aniquila este impulso (?)suicida (?) em termos.
abração