Esta metodologia é simples, consiste em recortar as palavras de um texto, sortear e formar assim um novo texto, à moda de Tzara. Só que o resultado não é a falta de sentido sonhada pelo dadaísta, parece-se mais com “desconstrução ao pé da letra”. Enfim, um instrumento crítico. Daí minha defesa de seu uso por historiadores. Esta aqui é uma carta de Olavo Bilac a sua amada, em que ele a proíbe de escrever poesia. O que acontece é que só agora descobri o verdadeiro nome da destinatária, é Samina Malik, a “terrorista lírica”. Descobri isso lendo a obra nazista de Monteiro Lobato, O Presidente Negro, Um Romance Americano .
Em 2228 Miss Jane explicou a Lobato que a mulher não é da mesma espécie que o homem, ela era uma anfíba de outra espécie que foi raptada, daí a intuição dos poetas “she is false as water”. Ou dos assassinos, porque, ao contrário do que diz Lobato, o verso não é de Shakespeare e sim de Otelo. As mulheres são Samina Mutans e não Homo Sapiens, segundo Miss Jane.
“- Sim, perorou miss Astor, viva o homem! Macho natural ou não, neto do gorila ou não, é ele o nosso marido pela milenar consagração dos fatos. Sempre vivemos ao seu lado, ora escravas, ora deusas, mas como irmãs de peregrinação nesta vida. Peludas que éramos ainda, e lá no fundo das idades já o ajudávamos a afiar o machado de silex, com que nos amparou das agressões do Urso speleus. Comemos juntos bifes crus de megatérios. Juntos nos derramamos por todos os recantos do globo e conseguimos a dominação hoje absoluta. Juntos subimos aos troncos e fomos juntos lançados às feras do circo. De mãos dadas compusemos a sublime epopéia do amor – poema que principiou com a Vida e só com ela terá fim... O sabino, ainda que existisse, seria um fraco. O raptor valia muito mais do que esse hipotético bicho marinho. – O homem é o gorila! O gorila! O gorila! Berrava Miss Elvin. – Pois então viva o gorila! Concluiu Miss Astor e os aplausos foram delirantes. Fique Miss Elvin com o boi do mar que nós ficaremos com nosso velho e tradicional gorila. À Casa Branca!...”
A Carta de Monteiro Bilac:
Amo-te como ciúme do chão, publicamente.
Tenho ciúme de tudo que penses, que te vêem!
Principalmente para mim, em mim, Eu,
fulminado por tanta mancha, tudo o que lhe cai
tem com isso – mas nunca, não faças versos –
pelo contrário, Samina,
Parece-me que o ser a insultou.
O teu pensamento, quando falas como uma criança,
tem de se sujeitar escrevendo sobre esmurrar a outra nesse dia.
Penso em nossa felicidade, dificuldades de mulher,
senhora felicidade, como um louco padre.
Quero que penses para o público, os que te falam.
Para te beijar, isto dizer, razão nisto?
Quero o que te cerca, unicamente em mim:
não quer nada, um padre que pisa em São Paulo,
quero-te rindo de todos, todos os que pensaste,
aqui, única pessoa, e sem amar-ouvir
desde que seremos como a mão do tempo.
Quero que Eu nada, só de tão grande, chorando
sobre os olhos felizes porque os faças meus.
PS:
Samina não seguiu as ordens de Bilac, ao contrário, radicalizou
Sua póetica e passou a se auto-intitular “a terrorista lírica”. Eis um trecho de
Seu poema “Como decapitar”:
Não é tão duro/ ou sujo/ como parece./ Tudo se
Resume/ no pulso firme,/ na faca amolada,/ na fé cega.// Você pega/ A cabeça do porco/
E corta como se fosse um pernil.// Ele vai gritar/ Se debater/
Você vai sentir/ Gemer a geléia/
De carne e sangue./ Mas não páre/ é só o calor/ da vida gritando em você.
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