2/02/2009

sturm und drang, 1996

dançou aqui
um destino tosco
deixou as sapatilhas sobre mim
pensei num filme breve
risos
luzes risíveis
brilhos
superficiais
e afogado em meus navios
disse: “pega leve,
furacão
”.

alheios ao tempo
os braços frios
enterraram no peito
outro naufrágio,
coração.

2 comentários:

Daniel F disse...

Oi Aldemar,

fiquei pensando sobre porque meus navios ao invés de navio. a imagem fica difícil de se completar. ou não é uma imagem?

de qualquer jeito, gostei bastante desse poema.

vou por aqui uma montagem que fiz com dois relatos sobre o Navio Manausa (tenho vontade de um dia escrever a história desse navio), com a viagem do M de Andrade ao nordeste e a de Graciliano, no porão, ao Rio de Janeiro. A montagem conversa com seu poema, ainda que de um jeito meio enviesado.

Abraço,

Daniel.

Aldemar Norek disse...

Não sei o porquê. Vou arriscar uma explicação (digo arriscar, porque este poema é mesmo de 1996, e os motivos do poema ficaram, de certo modo, distantes):

acho que cada navio quer dizer um dos aspectos da vida, considerando que estes aspectos não se apóiam em solo firme, mas em algo mais fluido - os navios flutuam e às vezes naufragam, não se fundam no solo, não criam raízes, não deixam pegadas ou marcas no chão. O adjetivo que precede os "navios" dá a indicação de vários naufrágios e do esfacelamento do sujeito em muitas partes, cada uma em um navio, torcendo pra que os ventos não sejam inclementes, numa expectativa de não se perder de todo. Por outro lado a fluidez do mar é o que possibilita o ir além, desbravar, metáforas bem nossas porque portuguesas, não é?

Fora isso é claro que "navios" vem ecoar em "frios" na segunda parte, assim como "furacão" em "coração". Estes jogos de som e sentido, nem sempre conscientes, ou quase nunca, na hora em que a gente bota no papel um pensamento que quer virar poesia (e quase nunca vira, de fato).

Mas esta tentativa de hermenêutica, como talvez todas, é talvez um outro naufrágio, porque a interpretação de quem escreve talvez seja a que menos interessa.

O que me interessa é você ter se interessado, lido e gostado deste poeminha antigo. Obrigado, mais uma vez.

Vou ler com atenção o texto com o navio do MA e do GR. Grande e saudoso abraço!!!

(me ocorreu agora que o "navios" no plural pudesse sugerir uma megalomania de armador grego....rs.....não é isso, com certeza!!!rs)