Quando você é vulgar: apenas negocia convenções, não domina os segredos, qualquer um pode dizer que árvore é o nome de uma cidade, que cidade é o nome de uma arma, que arma é um sentimento, que sentimento é o nome de um faraó. A língua epistolar é a conversa vulgar no desentendimento, mesmo que este ocasione encontros repentinos e imprevistos. É quando uma criança autista diz pra você: se o mundo gira, porque você não fica tonto?
6/30/2010
Bustrofédon
Escrevendo
Loucamente preencher o vazio da tela
Esvaziar a cabeça na tela cheia
Cartas pra você
Mesmo, pra ninguém, preencher
Remover, limpar, excluir,
Apagar o redemoinho do peito
Rasura em cima de rasura
Como de pétala sobre pétala
Se faz se desfaz se refaz um girassol.
Escrever pra sobreviver, pagar pra ver
Apagar os vestígios, driblar as armadilhas
Escrita de animal encurralado
Escrever pra não ter que responder
A pergunta impossível, a vida impossível
Como fazer de tristes letras negras
Uma flor amarela, que não nasceu
Jamais nascerá de meras palavras
Escrever pra preencher a vida
Vazia, paradoxalmente vazia e pesada.
Escrever pra exorcizar o inferno, depois
De escrever o inferno, exorcizar o inferno
Da escrita – o erro
Tentar conter o sangue, impedir as lágrimas
De fluírem como as palavras aqui, agora – o outro erro
Deixar correr solta a língua, o ar pesado e frio do peito
Deixar vazar o sangue – escrever sem parar
Porque a vida é o mais improvável:
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