6/11/2010

Tempestade Intempestiva?

Tempestade Intempestiva?

I
Escravo de mim mesmo
Vivo em círculos de poucas retas
Vivo fenecendo em rodas de sânsara
(de forma sacana penso:o que me falta é a punheta trântrica?)
A cobra que morde o próprio rabo: quem é?

Vivo? Nunca sabemos se realmente vivos: eis a ambigüidade da vida-morte
Morte do corpo? Morte da alma?
Guerras internas: em busca de alguns armistícios?
Poesias, natureza, artes e fisolofias:
não sou digno delas, apenas contemplo um vinho vagabundo.

Talvez tente ser um bom pai e um bom filho: quero algo mais?
Talvez um grande amor... ilusão romântica? Eterno apaixonado?
Pelo menos leio em um título de um livro do Rubens Alves:
Ostra feliz não vira perola? Conforta meu ego em guerra.

Queria eu livrar-me do meu ego e apenas ser: é possível?
Ego-ego-ista-ista-egoi-como sair da roda: sansara é a cobra do mato: tatarna! Ops: tatarana! Que fica perto da gruta do Rei do Mato.


II
Por vezes, creio que é o lance da tragédia é a comédia da vida alheia.
Meu sofrimento é a comédia do mundo.
Vivo, sofro: procuro não viver a melancolia da acídia:
Resistir sem a complacência com a tristeza é minha meta.

Mas, contudo, todavia, porém...
O vinho corre sobre a tinta...
A tinta da vida: como lidar com o choque da morte?
Como lidar com a alegria de uma filha que apenas balança em uma rede?
Como lidar comigo mesmo?
Ao menos a lida tece urdiduras que duram: eterna vontade de permanecer?
Como aceitar o que flui, o que não flui, o que é, e o que não é:
Recordação maravilhosa de uma dependência absoluta:
Ao absoluto? Ao amor? Ao prazer? A vida? A minha pequenez egoísta?

III
Vivo fenecendo, apesar da ilusão de renascer
Talvez escrevo dos baixos-altos desejos:
Como encarar a moral-imoral?

Preso em teias da subjetividade (esse mar sem fim)
A procura de algo, do outro, da vida e do amor romântico-subjetivo
Da família talvez falida? Fragmentações da experiência de um tempo e do tempo
Retenções simétricas e propensões de horizontes que fogem:
Horizontes de lapsos da memória, perdidos no buraco negro do meu esquecimento

Perdido-encontrado; encontrado-perdido
Jogos de palavras: superfície-liso-estriado-profundidade-superficial:
Aqui não é mais o agora e o presente não é mais futuro: foi-se e fui:
não habitamos a própria casa?
Dúvidas involuntárias: in-nega tudo?

Plun-ti-plati-zun: não vai a lugar nenhum: nem mesmo ao zoológico:
Hoje é domingo: dia de pipocas!

IV
Faz quatro anos:
No mesmo lugar
Entre um mais que possível
E um outro mais que (im)parfait

Entre tempos, temps
Entre temps, tempos verbais
Tempos da história e da experiência: queria poetizar minha própria experiência
(talvez a única saída pra uma alma vazia.
Como aceitar a falta de talentos?
Falsos poetas podem entrar no jardim das delícias?
Ao menos sou um bom mentiroso: ironizo meu ego e ao mesmo tempo o alimento: eterna ambigüidade!)
(Um ar ecoa com o tempo dos trilhos que gritam ao escutar as locomotivas:
automóveis do minério.
Entendo Drumond: retirar minérios da terra é edificar nosso próprio sepultamento!)

Entre tempos verbais, um delírio:
Paixões passadas, ilusões futuras: um presente solitário?
A solidão me angustia: não angústia, é claro, o leitor não solitário
Solidão, como se sabe, rima com otário!

Vinícios: o que é viver um grande amor?
Para um coração que quer viver o sossego, mas vive desassossegado?
Hoje observando o silêncio do mundo entendi o sentido de sossego:
Mas depois disso a cobra sibilou e o gavião resolveu comer o ou ri ço:
Ver a natureza é ver nós mesmos: tememos!

Eis aí uma psique singular e gregária: possuidora de paradoxos contínuos
Ao menos há o afeto da família e os amigos...
Apesar de toda a ode a amizade e dos muitos amigos sinto o terror de me ver
De me sentir: ver a venerabilidade da existência
E depois? Seguir, edificar, verbiar: não sucumbir a tristeza:
A acídia é parente do demônio do meio-dia.


V

Doendo, apesar da vida burguesa
Apesar, do vinho
E do vinho, apesar
Não luto pelo pão!

Perdido à beira das mortes (antônio das mortes bem sabe)
O problema é que aceitei o contrato hobesiano e nunca matei ninguém!
Nunca senti a morte: só algumas assepsias funerárias
Mortes naturais e a-naturais

Tudo se resume a isto: aos 32 dois anos aceito o envelhecer!
Sair de um lado e entrar em outro: passando por outro, que nunca é meia
Nesse frio da roça uma meia é um entre - lugar entre a pele e o frio penetrante
(amanhã vou comer a rapadura do Carcunda e curiosamente agora é meia-noite)

À beira da morte: morte alheia que também é minha
Lucidez embriagada à procura da luz da serenidade

Ser de idade: natalidade!
É duro renascer sempre!
Não se renasce com o tempo lógico: não há lógica no tempo!

Enfim, serenidade: um bêbado equilibrista?
Dessassussegado (com s é bonito, não?) perto de São Brás do Suaçuí

VI
Prisioneiro das paixões? Phatos afetados
A fé e a liberdade são os textos ocultos?
Ou a prisão das palavras? Pq escrevo? É um gostar-desgostar: loucura infantil?
Ao menos as crianças sorriem e vêm algumas estrelas:
Depois vêm à adolescência e acaba com tudo?

Depois vêm à sexualidade e deixa a cabeça perturbada:
Por isso que Riobaldo aconselha casar, apesar de Diadorim...
Mendigo-afeto e mendigo do afeto:
Eis aí uma fotografia real desse instante!

VII
Um olhar me acompanha por esses dias
Sentir o sublime amor? Mundo, vasto mundo do meu coração:
O pior é que essa coisa de sentimento não é uma bobagem!
Queria eu ser um insensível: sensível apenas as flores... e ao belo definido nos livros

O sublime amor: uma experiência de Deus?
O sublime amor: apenas uma experiência...
Entre os pais e os filhos quem habita?

Embaralhamento: isto me prejudica quando jogo cartas!
Palavra bonita! Talvez a serenidade e o tempo estejam nas mãos
dos jogadores de cartas...
Não se pode duvidar de tudo!
Queria simplesmente ver: apostar no amor. Em um amor!
Sentir o fluir sentido de um olhar cigano fugidio.

Um dos meus maiores êxtases foram com os ipês e as paineiras: loucura?
O problema das misteriosas ciganas é que elas não gostam de se fixar!
E talvez estejam certas
A fixação é uma ilusão confortante que busco, mas não atinjo:
Minha alma atormentada precisa de sossego: como?
É realmente um dilema: até que ponto a vida autêntica não nega a vida burguesa?
Autenticidade sem cartório é uma travessia que atravessa o corpo: cheio de dor

VIII

Repetições?
Novo-velho?
Ou simplesmente novo?

Frente ao amor filial e paternal nenhuma dúvida:
O problema é a horizontalidade: fuga de horizontes...
Talvez seja a saudade do mar

Mas, uma amiga angolona (e seu pai) quando vêem o mar
Não vêem o infinito, mas, justamente o contrário...
O contrário da alegria? Ao menos, um passado que foi...

Quando me apaixono quero acelerar o tempo: não gosto de esperar
Sinceramente não sei... é preciso viver várias vidas numa só?
Até que ponto ser sereno é um fim? Apaziguado, certamente?
A eterna busca do colo da mãe? (colo fetal? Retal? Anal? Colos corpóreos: nossa busca? E nosso fim?)

Quando escrevo no papel: vejo a tinta
Vejo o outro que é a palavra
Quando imprimo o stilo na tela, sobretudo, quando o sol raia
Vejo a mim mesmo na tela
Na verdade quase não vejo a tela, nem a palavra

Aceitar a paz é bom,
Mas, vejo (se vejo)
que difícil é construir a paz! Somos pequenos e queremos ser grandes...
Às vezes para lembrar minha pequeneza sofro a esperar uma mensagem de celular
Sofro como as amantes de outrora: pior ainda em tempos de guerra!
A esperar uma carta do outro lado do atlântico

Talvez eu esteja preso a esse instante presente/passado da vida
Na ânsia de viver muitas vidas numa só
Durmo com culpa de não ter escrito o artigo, de não ter lido, de não ter sido

Não sei se é pq viagem de canoa ou se o mar é bravo mesmo...
Mas, a tempestade parece que deu um tempo...
On vera...

A poesia, ou melhor, a palavra, não cria:
apenas transborda no excesso de mim, o excesso de mim
apesar de mim,
mas, sobretudo, para mim.

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