8/31/2011

No fundo do convento, um jardim – depois do jardim, vemos um vale coberto de mato virgem e mais adiante encostas de morros com casas: varandas, roupas secando, carros velhos nas garagens. O jardim é dividido em três patamares de forma retangular, separados por muretas de concreto carcomido. No mais alto, alguns bancos que devem, um dia, ter sido azuis. Nos três níveis do jardim, a grama seca tem tons amarelados, de palha, em meio ao verde-pálido. No mais baixo, um fino cano metálico azul, vertical, parecendo um caule decepado, irriga a grama, sob o sol da manhã. Girando rapidamente, o irrigador esparge água, jogando grandes gotas para o alto e para todos os lados. Forma-se sobre o irrigador uma cúpula, uma esfera pontilhada de gotas que brilham e se apagam. Cada gota faz uma viagem veloz do caule de azul metálico ao alto, do alto gira num arco lateral e enfim cai sobre a grama. É esse movimento que, quando visto como um todo, dá a impressão de que observamos um lustre formado por vagalumes líquidos. A luz da manhã, oblíqua, entra em cada gota, fazendo dela um tipo de cristal efêmero. Não vemos o caminho que a luz faz antes de chegar às gotas: é como se ela viesse de dentro da água. Por trás da cúpula assim formada – uma flor abstrata – vemos uma árvore frondosa, para além da árvore, o vale com seu matagal e seus bambuzais, mais além – a cidade. Um tecido diáfano criado pela dança da irrigação funciona como um véu quase transparente sobre a paisagem, quando a miramos usando as gotas de água que giram no ar como foco. O mundo, assim, é revisto novamente: tudo muda de figura quando olhamos com atenção para um irrigador azul e suas pétalas de água sob o sol oblíquo.

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