8/28/2011

passagem


I
o barulho das máscaras caindo
me deixou surdo, não há nada
debaixo do chão e apenas
alguns mícrons nos separam
do abismo, mas ninguém esperava
o baque surdo de tantas
máscaras

as orações que eu escrevia, ela nunca
suspeitou que eram para o deus
ninguém, porque no fim, como já
desconfiava, ninguém viria me salvar
a pele como divindade que não perdesse
a lucidez enquanto o verdadeiro rosto
aparecia

II
vou deixar a cidade’, ela disse, ‘de vez
em quando as coisas se perdem
de vez
’, as cores deviam ser doces
e nunca soube porque elas ferem,
eu disse contraindo os olhos como sempre
faço quando minto,

mesmo tentando
pôr os cinco dedos por entre as barras
do código de barras, daí saber que não
é uma janela nem uma saída
da embalagem dos dias repetidos, avenidas
tristes, raptos de sentido, céus sombrios
de um verão iluminado

III
em que ninguém sabia o quanto de real
traziam os versos que escrevi nas margens
daquela embalagem

2 comentários:

Daniel F disse...

a cicatriz é uma máscara?

Aldemar Norek disse...

acho que pode ser uma boa subversão enfeitar a cicatriz, transformando numa máscara.