12/05/2011

Espelhos do tempo 2

5.
O telefone toca:
Dormia muito bem,
O aparelho.


6.
Entre peixe e visão
Refratada
Passa a flecha:

Quando estou onde estive
E não sou.


7.
Pedaços de pulmão
Oxidado
No ralo do chuveiro.
8.
Flores apodrecidas
Na vitrine da floricultura.

9.
O campo de visão se fecha, mas não no sentido habitual de quando fechamos os olhos, de cima para baixo e de baixo para cima, mas lateralmente. Os olhos são ampulhetas que funcionam numa lógica não gravitacional, a areia, a passagem do tempo, corre dos lados para o centro. A poeira vai além, chega até a mente e onde o corpo faz conexões com a alma. Apago-me. Não sei ao certo se ainda enxergo qualquer coisa quando começo a cair. Acordo com o queixo aberto, dentes molares arrebentados. Que despertador foi esse que usaram para me acordar, uma porrada como se estourassem bumbos por dentro do cérebro: é minha cabeça batendo no chão.
Caio em mim como alguém que cai em si.
10.
Atenuem-se as viragens do tempo no “torniquete da consciência” (Piva). Realidade é eufemismo para alucinação. Eppur si muove: a história (vivida) é um caso crônico.

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