12/13/2011

Mais espelhos do tempo

15.
O processo de decadência de uma pessoa não é corrosivo, é acúmulo – por excesso e repetição. Como os rostos mais estranhos sempre são reconhecidos. Como andar pelas ruas procurando um caminho inesperado e sempre chegar ao mesmo (placas verdes sem nome, nada inscrito: toda e qualquer cidade foi vista tantas vezes). Apesar de sermos induzidos a pensar numa pessoa andando e se desfazendo aos poucos, devido à imagem da queda, a decadência é uma pessoa que acumula pedras sobre pedras, pedras entulhadas nos bolsos, na mochila, nas mãos, na alma de lodo de uma pessoa curvada sobre as próprias pegadas marcadas na areia, ao infinito, nunca tocando o mar.
Decair é cair e cair novamente e novamente cair por dentro de si.
16.
Uma vida começa no mesmo instante em que outra vida termina. O fato de essas vidas estarem mutuamente encantadas em estado de paixão faz pensar em Marcilio Ficino quando poderia ter dito: o rastro brilhante de uma estrela que cai e o rastro brilhante de um cometa que sobe são como o espelho em que o tempo se mira e se apaixona por si mesmo. O tempo às vezes é um mágico triste.

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