1/21/2012

nº 95

(imagem colhida no blog http://interessantte.blogspot.com, onde não há autoria mencionada)




A síntese de sua vida
é um móbile, décadas
perdidas dançam suspensas
dando voltas sem sentido
e cada uma é um buraco
negro, matéria
concentrada, memória feita
precipício, espelho fosco, oráculo
que não revela,
e dia após dia você raspa
com as unhas o nitrato
de prata sob o vidro
quando se debate, nas horas
livres da catalepsia que nos cabe
a cada dia,
querendo amalgamar com ele a bala
que lhe atravessasse
o peito, enquanto as décadas exibem
transparências que você forjou
sangrando os dedos, no escuro
de mais uma noite absurda
deste século vomitado
pelos outros.

Memória é mesmo o lugar das coisas mortas.




(das 'Notas Marginais')

7 comentários:

Daniel F disse...

realmente... parece até que foi combinado

Aldemar Norek disse...

Acho que mexi em alguma coisa depois que vc leu...
E que parece combinado, parece...
Abração!

Daniel F disse...

gosto dessa imagem, esse século vomitado pelos outros. tem muitos sentidos possíveis. mas me interessa porque vejo nela uma imagem com fortes ressonancias naquele meu projeto meio perdido, vertigem de vestigios, que é exatamente pra pensar o tempo da atualidade como um jorro: de ressentimento, violência, mas com seus toques de utopia.

Aldemar Norek disse...

É, Daniel, acho de fato que nossa longa convivência infiltrou em cada parte algo do outro, por mais diferentes que sejam as vozes, e com projetos muito delineados, Mas é impossível, pelo menos pra mim, gostar, debater, pensar e não ser tocado/modificado de algum modo por isso. É aquele lance que estávamos falando no FB sobre a poesia como um diálogo, nunca um monólogo. Sim, e depois de estar me aprofundando no XVIII em busca de cadáveres, não tem como não pensar que este século é um vômito dos anteriores.
Abração!

nydia bonetti disse...

Aldemar, que bela surpresa a tua poesia. Mar Becker tem mesmo construído pontes entre poetas e poesias. Acho isso bárbaro. Vou seguir vocês todos aqui. Abraços gerais. Nydia

Anônimo disse...

Oi Nydia,

as poesias do Aldemar são mesmo muito legais!

voce tinha passado aqui antes e deixado um recado, eu demorei pra responder, não sei se você viu. enfim, aqui no lingua é tudo meio
solto. só depois que vi que demorei um tempão pra te responder eu pus o lance de aviso quando chega um comentário.

mas o mais importante é o seguinte: essas notas marginais do Aldemar são muito legais mesmo. se voce quiser dar uma olhada no que tem aqui vai ver outras coisas muito boas dele. acho que ele devia publicar.

Abraço!


Daniel.

Aldemar Norek disse...

Nydia, desculpe, mas tenho andado mergulhado na areia movediça da vida, e tenho entrado pouco aqui, que é a minha casa mais querida na internet - por conta dos meus co-habitantes.Tipo o Daniel, que fica fazendo elogios exagerados sobre mim. Não acrecdite no que ele diz...rs. São os olhos da amizade.

Sim, a Mar é uma estrela que tem feito o caminho ficar mais claro entre pessoas que nem se conheciam.

Valeu por suas palavras tbm. Bjos.