1/18/2012

Novos espelhos do tempo

22.
Um tiro de 22 no ouvido não é uma boa idéia. A bala bate no rochedo, ricocheteia e estraçalha os tímpanos. De 45 a bala atravessa o crânio e sai do outro lado: desperdício. O revólver encostado na mandíbula, apontado para cima: tem muito osso no caminho do projétil até o cérebro. O ideal é encostar o cano no céu da boca.
Abre a janela, fecha a janela. Verificar se a porta está trancada. Saltar, com pára-quedas, do terceiro andar.
Tempo é energia sem objetivo.
23.
Me julgam porque sou sozinho. Eu mesmo construí meu túmulo, espelhado por fora. Diagramas, vetores, olhares e vozes: reflexos. Janelas que se abrem para o muro. Corações emparedados. Aquário de demônios que atiram facas pelos olhos. Anjos tremem de medo por estar entre os senhores. Meu crânio poderia ser um globo terrestre. Tudo não passa de ilusão projetiva, sobretudo o espaço, as nuvens e o mau tempo. Doei minha alma para um laboratório psiquiátrico.
A não ser pelo fato de que o tempo devora inclusive os invisíveis.

Um comentário:

Aldemar Norek disse...

Fico impressionado com certas sincronicidades. Não havia lido este seu poema, Daniel, quando escrevi o que será postado acima, feito entre ontem e hoje...

Muito bom, Daniel!