4/23/2012

Vestir este leve dourado
Cintilante
Como um véu

Sobre os olhos.

A luz que atravessa
As nuvens
Prestes a irromper em chuva.

Desejo cegar
Os meus olhos
Nessas asas translúcidas
Do poente

Não quero mais ver
Ouvir
Essas mandíbulas de formiga
Mastigando rancor
À sombra da estátua de uma andorinha
Obesa.

Quero me enxugar
Do lodo cuspido por tais
Almas. Que fiquem
Em seus corredores
Remoendo, dizendo
Sins e nãos
Com as mãos.

Que sequem as lágrimas
Com a terra impura
De seu terreno
Baldio.

Meus olhos serão minhas lentes –
Não vou me salvar

Mas não ouvirei seus lamentos
E aplausos
Ranhetas
À sombra da tarde, do ocaso
Da vida.

4 comentários:

Aldemar Norek disse...

Mais uma da série: " e não me venha com ninharias diante do absoluto." :)

Gostei muito. Um pequeno trecho eu mexeria - "mas não ouvirei" se afasta muito da fala. "Mas não vou ouvir" ou algo assim, pra mim, trazia o poema pra fala que ele desenvolve.

Abração.

Daniel F disse...

nesse caso gosto mais mesmo de ouvirei. fica melhor com o resto além de ter o lance: hei de ouvir, que é um pouco a idéia de futuro como ex-voto etc.

vou ouvir dá outra coisa. mas, enfim, vou pensar mais.
já mudei muita coisa por sugestão sua, quase sempre é o melhor a fazer!

Abraço.

Aldemar Norek disse...

rapaz, de repente é só a minha mania de querer ouvir tudo como uma fala, e o "ouvirei" me soando 'pomposo', desviou a fala do corriqueiro que mais gosto.

dá de pensar mesmo,porque o "ouvirei" tira um efeito, apesar de me incomodar no ouvido.

fica aí mais a dúvida, como sempre, do que uma certeza.

e é uma beleza a gente ter poemas que suscitem dúvidas, não? isso é um sinal de potência.

abração!

Haemocytometer disse...

É estranho... por um lado, "vou ouvir" fica msis coloquial. Por outro, fica mais cacofônico também. Meu voto é no "ouvirei". É um poema imponente, parece cinzelado no mármore...